Sergei Lavrov, chanceler russo – Foto: Reprodução

O chanceler russo, Sergei Lavrov, afirmou que apoia as propostas da presidência brasileira do Brics, incluindo a ampliação do Conselho de Segurança da ONU. Em entrevista ao Globo, o chefe da diplomacia do governo de Vladimir Putin também comentou sobre as negociações em andamento com o governo de Donald Trump. Segundo Lavrov, as conversas foram positivas: “Esperamos que isso os ajude no diálogo com Kiev.”

Um dos objetivos da presidência do Brasil no Brics é ampliar o comércio entre os países-membros. Que possibilidades a Rússia vê para aumentar o uso de moedas locais nos pagamentos comerciais?

No contexto da fragmentação acelerada da economia global, é natural que os países do Sul e do Leste Global estejam reduzindo o uso das moedas ocidentais nas transações entre si. Ninguém quer sofrer com as sanções que o Ocidente impõe contra países “indesejáveis”, usando sua posição monopolista nos mercados financeiros. É inaceitável que moedas de reserva sejam usadas como arma na concorrência, e transações de pagamento (mesmo para o fornecimento de bens de importância social) sejam bloqueadas sob pretextos políticos. No âmbito do Brics, realiza-se trabalho voltado para garantir transações financeiras ininterruptas. Podemos falar de bons resultados. Por exemplo, a participação do rublo e das moedas dos países amigos chegou a 90% nas transações da Rússia com os países do Brics em 2024.

As nossas prioridades também incluem trabalho na construção de mecanismos de pagamento sustentáveis. A declaração da Cúpula do Brics de Kazan em 2024 menciona a Iniciativa de Pagamentos Transfronteiriços, a infraestrutura de liquidação e compensação, uma empresa resseguradora e a Nova Plataforma de Investimentos. Essas iniciativas visam criar condições favoráveis para aumentar os volumes de comércio e investimento entre os países do Brics. Esperamos que sua implementação continue este ano sob a presidência brasileira.(…)

O Brasil defende a expansão do Conselho de Segurança da ONU. Qual é a posição atual da Rússia sobre essa questão? Apoiaria a inclusão do Brasil?

A Rússia acredita na necessidade de uma reforma bem pensada do Conselho de Segurança como um dos principais órgãos da ONU, que, de acordo com sua Carta, tem a responsabilidade primária de manter a paz e a segurança internacionais. É absolutamente claro para nós que a formação de uma ordem mundial multipolar pressupõe uma expansão da representação no Conselho de Segurança da ONU do Sul e do Leste Global – isto é, os países da Ásia, África e América Latina.

Consideramos o Brasil, que realiza uma política externa independente e é capaz de fazer uma contribuição significativa para a solução de problemas internacionais, um candidato digno para ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Apoiamos também a candidatura da Índia, simultaneamente com uma decisão positiva sobre a representação do continente africano no Conselho.

Aproveitando a oportunidade, gostaria de enfatizar que somos contra a concessão de assentos adicionais aos países ocidentais e seus aliados – já tem muitos deles no Conselho de Segurança. Não estamos prontos para apoiar as candidaturas da Alemanha e do Japão devido ao renascimento da ideologia do militarismo nesses países e suas políticas abertamente hostis em relação à Rússia.

Durante uma reunião sobre planejamento de política externa dos países do Brics, a delegação russa mencionou discussões com os Estados Unidos sobre o conflito na Ucrânia. Que possibilidades o Senhor vê para que essas conversas levem a negociações entre Rússia e Ucrânia para acabar com o conflito?

Em contatos com representantes do governo dos EUA, falamos em detalhes sobre as causas e as raízes da crise ucraniana. Explicamos a nossa visão dos parâmetros para sua solução final, levando em consideração os interesses legítimos da Rússia, principalmente na área de segurança e garantia dos direitos humanos. Nossa impressão é que nossos interlocutores americanos começaram
a entender melhor a posição da Rússia sobre a situação na Ucrânia. Esperamos que isso os ajude no diálogo com Kiev e com países europeus individuais. O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, informou-me no mesmo dia sobre esse contato em Paris de 17 de abril. Ele garantiu que as discussões foram conduzidas em linha com as consultas anteriores entre Moscou e Washington.

Senador Marco Rubio, durante sessão no Congresso dos Estados Unidos – Foto: Reprodução

Continuamos abertos às negociações. Mas a bola não está do nosso lado. Até agora, Kiev não demonstrou sua capacidade de negociação. Então, como se pode explicar o fato de que as Forças Armadas Ucranianas não foram capazes de observar nem a moratória de 30 dias sobre ataques a instalações energéticas (18 de março a 17 de abril) nem a trégua de Páscoa de 30 horas (das 18h00 de 19 de abril às 00h00 de 21 de abril)? O regime de Volodymyr Zelensky demonstrou falta de vontade política para a paz e relutância em abandonar a continuação da guerra, o que é apoiado por círculos russofóbicos em vários países da UE, principalmente França e Alemanha, bem como na Grã-Bretanha.(…)

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Last Update: 28/04/2025