A candidata presidencial do partido Liberdade e Refundação (Libre), Rixi Moncada, tornou públicas nesta terça-feira (2) provas de que o processo eleitoral hondurenho foi manipulado por meio da inclusão de milhares de atas infladas. A denúncia ocorre enquanto o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) mantém interrompida a transmissão oficial dos resultados desde a noite de domingo (30), após chegar apenas a 57% de apuração.
Moncada apresentou um relatório técnico de sua equipe no qual identifica 2.859 atas sem validação biométrica, equivalentes a 25,35% do total. Segundo a candidata, a eliminação da verificação biométrica dessas atas foi aprovada de forma repentina pelo CNE na véspera da eleição, o que teria permitido a entrada de resultados adulterados.
“A eliminação da validação das atas contra os leitores biométricos foi aprovada uma noite antes das eleições”, declarou. Para Moncada, a decisão criou “as condições para a soma de atas infladas, especialmente em nível presidencial”.
O levantamento aponta que essas atas apresentam média de 217 votos, com registros que chegam a incluir 100 votos adicionais em relação ao número real. O Partido Nacional concentra 1.588 atas sem validação, totalizando 326.285 votos irregulares, enquanto o Partido Liberal aparece com 1.041 atas, associadas a 217.193 votos. Somadas, as inconsistências ultrapassam meio milhão de votos.
“Vamos exigir, neste período dos 30 dias do escrutínio geral definitivo, que essas atas sejam revisadas, e vamos fazer uso de todos os recursos legais”, afirmou Moncada.
Interferência dos EUA
A candidata também reiterou que o país enfrenta interferência direta do imperialismo, citando as declarações do presidente norte-americano Donald Trump, que tem atuado publicamente em favor de Nasry “Tito” Asfura, do Partido Nacional.
Moncada destacou que horas antes da votação, Trump anunciou o “perdão absoluto” ao ex-presidente Juan Orlando Hernández, condenado nos Estados Unidos por atuar como co-conspirador no tráfico de mais de 400 toneladas de cocaína, medida que beneficiaria o setor político apoiado pelo republicano.
“O presidente Donald Trump me qualifica de comunista, esse expediente gastado da Guerra Fria. O povo hondurenho que me conhece sabe que estará do meu lado, indignado por sua ingerência”, declarou a candidata. Em seguida, reforçou: “manterei minhas posições e não me rendo. Estarei sempre do lado do povo, com meus valores firmes na defesa da pátria livre, nos princípios da soberania popular”.
Trump: Honduras tenta ‘mudar o resultado’
Na noite de segunda-feira (1º), poucas horas após a suspensão da contagem, Trump afirmou que “Honduras está tentando mudar os resultados”. Pela rede Truth Social, advertiu que haveria “preço alto a pagar” caso houvesse revisão.
A intervenção norte-americana ocorre em meio ao empate técnico entre os dois candidatos da direita tradicional, com diferença de apenas 515 votos quando a apuração foi interrompida. O sítio oficial do CNE ficou fora do ar por horas, e a página dedicada à apuração presidencial continua instável.
Segundo a presidente do órgão, Ana Paola Hall, é necessário “paciência e prudência”, enquanto o sistema conclui a transmissão. A lei hondurenha dá ao CNE até 30 dias para proclamar o vencedor oficial.
Libre denuncia operação fraudulenta
A denúncia de manipulação começou ainda no domingo, quando Moncada e a presidente Xiomara Castro afirmaram que o Sistema de Transmissão de Resultados Preliminares (Trep) havia sido invadido para bloquear atas oriundas de regiões onde o Libre concentra maior votação. O Procurador-Geral Johel Zelaya confirmou a existência de áudios vazados que indicariam interferência na ordem de entrada dos dados no sistema.
Ao longo de segunda-feira, a apuração divulgada pelo CNE oscilou de maneira abrupta. Com 6.559 atas processadas (34,25%), os primeiros números registraram ampla vantagem dos candidatos da direita. Horas depois, o órgão atualizou os dados sucessivas vezes, chegando a 53,1% e depois a 57% das atas, quando ocorreu a interrupção total da transmissão.
Moncada permaneceu em terceiro lugar em todas as atualizações, com cerca de 19% dos votos, mas afirma que não aceitará qualquer resultado antes da revisão das 2.859 atas questionadas.
“A disputa ainda não está perdida”, declarou.