O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou, nesta quinta-feira 19, a decisão do Comitê de Política Monetária do BC, o Copom, de elevar a Selic a 15%. Ao tratar do assunto, saiu em defesa de Gabriel Galípolo, o seu sucessor no cargo.
“Eu poderia falar: ‘Viu? Me criticaram tanto e agora a taxa está maior’. Mas minha honestidade intelectual não me deixa embarcar nessa. Eu teria feito a mesma coisa”, disse em conversa com o site G1.
Galípolo, indicado por Lula (PT) ao comando do Banco Central, liderou a reunião do Copom que decidiu pela elevação da taxa básica de juros em 0,25%. Ele votou pelo aumento, assim como todos os demais membros do grupo.
As justificativas usadas foram as incertezas do ambiente externo em função da conjuntura e da política econômica dos Estados Unidos e a “moderação no crescimento” da atividade econômica e do mercado de trabalho no Brasil.
Para Campos Neto, o Comitê liderado por Galípolo teria feito a leitura correta do momento. “Acho que o ganho de credibilidade frente ao custo monetário era claramente favorável a este último ajuste, dada a necessidade de reverter as expectativas desancoradas”, disse ao G1.
A reunião terminou, também, com a indicação de que este pode ser o fim de uma série de aumentos da Selic no ano. Segundo o comunicado do Copom, se o cenário esperado se confirmar, a tendência é interromper o ciclo de alta na próxima reunião, prevista para o final de julho.
Galípolo, pessoalmente, não comentou a decisão tomada na quarta-feira. A posição adotada no colegiado, porém, foi duramente criticada por entidades do setor produtivo como a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em nota, a CNI disse que “a irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos”. A entidade chamou de “injustificável” o aumento e disse se tratar de um “contrassenso” do BC após manifestação contra o aumento do IOF. Galípolo foi nominalmente poupado no comunicado.
No campo político, Galípolo também não foi alvo direto de críticas do governo, mas a decisão não passou livre. A porta-voz do descontentamento foi a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, que também disse ser “incompreensível” a decisão tomada pelo Copom.
A Selic de 15% ao ano representa a mais alta taxa de juros no país desde julho de 2006, quando Lula estava no seu primeiro mandato como presidente. Essa é também a segunda pior taxa real de juros do mundo, segundo um monitoramento das consultorias MoneYou e Lev Intelligence, atrás apenas da Turquia.