Primeiro Encontro Estadual das Mulheres do MST no PR, em 1988. Foto: Arquivo MST

Por Por Juliana Barbosa, do setor de comunicação e cultura do MST no PR
Da Página do MST

Com os aromas de março, mantemos viva a memória resgatando as contribuições das mulheres no fortalecimento do MST e no avanço da Reforma Agrária Popular.

Em 1988, em Guarapuava, cerca de 25 companheiras do MST no Paraná se reuniram para construir o primeiro Encontro Estadual das Mulheres. Entre os objetivos estavam o de fortalecer o papel das mulheres na luta pela terra, a formação política, o debate da organicidade do Movimento e as pautas sobre os direitos das mulheres do campo. 

Participaram mulheres de diferentes regiões do estado. Após mais de três décadas, em um momento de recordação, Dona Lina e Solange Pellenz se emocionam ao ver as fotos em que rememoram e se encontram na luta quando mais jovens. 

Solange Pellenz à esquerda e Dona Lina à direita, participando do encontro. Foto: Arquivo MST

Dona Lina hoje com 79 anos, mora no acampamento Zilda Arns, em Florestópolis, norte do Paraná. Na época do 1º Encontro fazia parte da direção estadual do MST e conta em detalhes diversos temas debatidos no encontro, desafios árduos da época e as vitórias conquistada com muita luta pelas companheiras: “A partir desse encontro de mulheres, avalio hoje que todas as conquistas que nós temos como trabalhadoras como mulheres, como negras, foi uma conquista através de nossa coragem, de nós construir dentro do MST um coletivo que sabemos que não foi tarefa fácil”, diz dona Lina. 

As mulheres Sem Terra marcam suas presenças na luta desde o surgimento do MST, na década de 1980. A partir do momento de sua concepção, o Movimento conduz a participação e a inserção das famílias camponesas, portanto, a atuação das mulheres é essencial em sua organicidade. Essa presença, por vezes, reflete a forma como a sociedade naquele período histórico entendia as relações entre os seres humanos. 

Dona Lina conta que nesse período os acampamentos eram bastante massivos, e quem tinha direito ao cadastro era apena a figura masculina: “Os homens eram donos dos contratos e cadastros da família no acampamento. Com o tempo, muitos homens deixavam o acampamento, então tínhamos a realidade de mães solos e então aí a necessidade de a mulher ser a dona do próprio cadastro e não mais o homem”, relata dona Lina.

As mulheres Sem Terra assumem a luta pela terra com força e determinação, fortalecendo as diferentes frentes de organização do MST. Entre elas a educação, que hoje é um setor em nosso Movimento. 

Um dos temas debatidos na época do 1º Encontro das Mulheres era o analfabetismo. Muitas mulheres mal sabiam escrever seus nomes, triste realidade que vemos até hoje no campo. “Lembro também que foi lançado um folder no acampamento, com o lema ‘Nenhuma pessoa no acampamento sem saber ler e escrever’, essa campanha durou muitos anos e conseguimos após muita luta”, relembra dona Lina.

Solange Pellenz, de 63 anos, moradora do assentamento Santa Maria, onde está localizada a cooperativa COPAVI, também participou do Encontro de 1988. No ano seguinte, em 1989, ao lado de Iraci Salete Strozake, coordenou o Coletivo das Mulheres no MST no estado. “No início, me recordo que foi difícil, éramos em 11 companheiras no coletivo, com o tempo avançamos e outras começaram a participar” relembra Solange. 

“O encontro foi a contribuição da mulher na luta pela terra. Considero que foram de grande relevância os debates referentes à participação da mulher nessa luta, visto que incentivava e fortalecia a participação e a contribuição de homens e mulheres, fazendo com que o MST, se fortalecesse no estado. Sem a consciência e a participação da mulher, isso não seria possível”, conclui Solange, que hoje contribui na direção da cooperativa COPAVI. 

O 1º Encontro das Mulheres do MST no PR aconteceu em Guarapuava. Fotos: Arquivo do MST

Após esse encontro, as mulheres avançaram no processo de auto-organização, compreendendo a importância do seu fortalecimento para contribuir nas lutas do Movimento e também buscando estratégias de construção de novas relações de gênero no MST e na sociedade de maneira geral. Outros encontros foram construídos nos anos seguintes, principalmente nas regiões onde a participação das mulheres se fortaleceu.

A luta e a organização das mulheres Sem Terra segue no dia a dia, e a cada março sentimos com ainda mais força o seu aroma e a sua urgência. É uma honra e uma emoção fazer parte da juventude Sem Terra de hoje, ver essas mulheres da primeira geração que passaram por grandes lutas e dificuldades e não baixaram a cabeça. Enfrentaram grandes desafios da época, foram linha de frente. 

Em abril de 1992 foi realizado o Primeiro encontro das acampadas e assentadas do Sudoeste do PR, em Marmeleiro. Fonte: Jornal Sem Terra 

A luta delas e as de antes delas fez com que pudéssemos estar hoje em espaços de decisão e construção do nosso Movimento, e também na nossa vida pessoal, na criação dos nossos filhos e na busca de novas relações humanas. Elas são inspiração para nossa geração que também segue enfrentando a luta contra o machismo, o patriarcado e o capital.

E como disse dona Lina, “a luta continua com esperança e acreditando no avanço da nossa organização”. 

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Last Update: 13/03/2025