Imagens capturadas por câmeras nos uniformes de agentes policiais do Rio de Janeiro registram casos como abusos cometidos e mortes de agentes. As cenas foram divulgadas com exclusividade pelo programa Fantástico, da TV Globo, no domingo 1º. Os registros foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação e analisadas pela equipe do programa jornalístico por seis meses.
Em um dos casos, a câmera na farda de um policial gravou o momento em que outro PM atirou nas costas de um suspeito que estava rendido na Zona Norte da cidade do Rio. Deitado no chão durante abordagem, o homem fala com os agentes e tenta se explicar. Ao se levantar, é atingido.
As gravações mostraram que os policiais envolvidos na abordagem tentaram combinar uma versão diferente sobre o caso para prestar depoimentos: eles diriam que não miraram no suspeito, e sim no carro dele. As câmeras ajudaram a revelar a verdade, e os envolvidos foram afastados. O caso está em análise pela Justiça e pela Corregedoria da PM.
O homem baleado confessou ter roubado a bolsa de uma mulher. Ele sobreviveu ao tiro e foi condenado a seis anos de prisão.
Imagens obtidas pelo Fantástico deixam clara a importância das câmeras para mostrar os riscos da atividade para os próprios policiais, além de ajudar a elucidar casos em que são vítimas.
Em um dos episódios gravados, na cidade de Itaboraí, na região metropolitana do Rio, a morte do policial Gabriel Fernandes foi registrada pela câmera que estava na própria farda dele durante ação para prender traficantes. Ele foi baleado e não resistiu. O acusado de matar o agente foi preso e se tornou réu pelo homicídio – ele ainda aguarda julgamento.
As câmeras também permitem registrar casos como o de um policial que flagrou um furto no bairro de Copacabana, na cidade do Rio, e prendeu o suspeito. O homem detido ofereceu propina, e o policial prontamente recusou. “Sou polícia, irmão, não sou vagabundo. Não aceito ‘arrego’ de ninguém”, disse o PM.
Para a reportagem, a Globo analisou cerca de 800 processos em andamento na Justiça do Rio, todos de casos entre 2023 e 2024. Em quase 500 desses processos, as imagens das câmeras não foram enviadas ao Judiciário. A Polícia Militar do Rio reconheceu à Globo que centenas de imagens foram apagadas dos sistemas. Em mais de 100, os PMs não estavam com as câmeras corporais – apesar de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) para o uso do equipamento.
Em maio deste ano, uma portaria do Ministério da Justiça determinou regras para o uso de câmeras corporais pelos órgãos de segurança do País. O texto determina, por exemplo, que os equipamentos devem ser acionados durante o atendimento de ocorrências, na atuação ostensiva, em buscas pessoais e domiciliares e em ações operacionais em geral.