As bets estão impulsionando o mercado ilegal no Brasil. Foto: Divulgação

O mercado clandestino de apostas esportivas tem ganhado força no Brasil, mesmo após a regulamentação das plataformas legalizadas no início de 2025. Um dos principais motores dessa atividade ilegal são os chamados “cambistas de bets”, que atuam como intermediários para casas de apostas não autorizadas, especialmente entre públicos proibidos por lei, como menores de idade. Com informações da BBC Brasil.

Esses cambistas recebem comissões por intermediar apostas e pagamentos de prêmios, e promovem seus serviços em redes sociais como Facebook e Instagram. Em muitos casos, perfis utilizam nomes semelhantes aos de casas de apostas legalizadas para atrair usuários. Uma análise mostrou centenas de anúncios ilegais em grupos da Meta, controladora dessas plataformas.

Um dos perfis mais ativos, o ‘Cambistas 24 horas’, chegou a ter 110 anúncios veiculados na biblioteca de publicidade da empresa. Após questionamentos, as publicidades desapareceram. Em nota, a Meta afirmou que apenas empresas com autorização regulatória podem anunciar apostas em suas plataformas.

Casas clandestinas oferecem bônus de boas-vindas, prática vedada pela legislação brasileira, como isca para novos apostadores. Para driblar a fiscalização, os cambistas utilizam grupos fechados em WhatsApp e Telegram, onde as apostas são concretizadas fora dos olhos das autoridades.

De acordo com pesquisa do Ministério da Justiça e Segurança Pública, 10,5% dos adolescentes entrevistados admitiram ter feito apostas no último ano. Com a restrição das casas legalizadas, os cambistas se tornaram a porta de entrada para esse público.

Além de menores, jogadores, árbitros, técnicos de futebol, reguladores e beneficiários de programas sociais como Bolsa Família e BPC também são proibidos de apostar por lei. O governo pretende cruzar dados para impedir que esses grupos acessem plataformas, criando um cadastro de impedidos por ordem judicial.

Dados do site ‘Aposta Legal’ indicam que, entre janeiro e fevereiro de 2025, o mercado clandestino movimentou aproximadamente R$ 350 milhões, com mais de 30 milhões de acessos registrados em sites não autorizados.

Para Fábio Macorin, subsecretário de Monitoramento e Fiscalização do Ministério da Fazenda, esse crescimento era previsto, mas preocupa devido às cifras envolvidas. Ele aponta que a rigidez das regras pode ter impulsionado parte da ilegalidade, como ocorreu em países como Portugal e Argentina.

Denúncias de golpes são frequentes. Apostadores alegam que, após depositarem valores para validar bilhetes, não recebem os prêmios prometidos. Em muitos casos, são forçados a fazer novos depósitos como condição para saque, sem retorno financeiro.

No Facebook, grupos com dezenas de milhares de pessoas promovem apostas ilegais. Foto: Reprodução

No Reclame Aqui, páginas de casas não legalizadas acumulam queixas. Um levantamento da ‘Idwall’ em parceria com a ‘Opinion Box’ revelou que 18% dos apostadores brasileiros já sofreram fraudes, o equivalente a cerca de 10 milhões de pessoas.

A CPI das Apostas Esportivas no Senado investiga a atuação de influenciadores digitais que promovem casas não autorizadas. O delegado Lucimério Barros Campos, responsável pela Operação Game Over, revelou que alguns influenciadores recebem contas falsas com prêmios simulados, pagos pelas casas para atrair seguidores.

Na Argentina, 14 influenciadores foram processados no fim de 2024 por promoverem serviços ilegais de apostas. A diretora da consultoria Bienestar Digital, Lucía Fainboim, alertou que essa prática está “naturalizada” entre adolescentes, e que muitos iniciam as apostas aos 13 anos.

No Brasil, o perfil ‘Bet365br’ no Instagram, que usa indevidamente o nome da gigante britânica Bet365, possui 300 mil seguidores e oferece comissões de até 30% a cambistas. A Bet365 negou qualquer vínculo com o perfil.

Em resposta à crescente ilegalidade, tramita na Câmara dos Deputados um projeto que prevê certificação obrigatória para influenciadores que promovam apostas on-line. A regulamentação inclui treinamento sobre riscos do jogo e multas de até R$ 1 milhão para quem descumprir a norma.

A proposta também quer obrigar as plataformas digitais a verificar a certificação dos perfis que anunciem apostas. Segundo Macorin, desde a entrada em vigor da regulamentação, já foram abertos 177 processos administrativos contra sites e perfis irregulares.

Além disso, 11 mil domínios ilegais foram retirados do ar. A fiscalização se dá por meio de denúncias e um canal exclusivo com a Meta. Entretanto, a atuação em aplicativos de mensagens permanece limitada por conta da privacidade dos usuários.

Para o presidente da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), Plínio Lemos Jorge, é fundamental endurecer o rastreio dos meios de pagamento e punir os responsáveis por divulgar apostas ilegais. “As pessoas precisam entender que não é brincadeira. É um problema sério que prejudica famílias inteiras”, conclui.

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Last Update: 13/05/2025