A PM de São Paulo só tem armas automáticas. Elas sempre disparam, automaticamente, contra pessoas negras. Se a pele for preta ou parda, ou se a pessoa estiver em território majoritariamente negro como nas periferias ou nos bailes funk, é o suficiente para considerá-la suspeita e atirar. Não é o que recomenda o protocolo das corporações. Mas é isso o que acontece.

Entre janeiro e agosto deste ano, as polícias Civil e Militar de São Paulo mataram 441 pessoas negras, de acordo com um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz. Entre 2023 e 2024 houve um aumento de 78% na letalidade policial contra corpos negros. Nossa pele é o alvo.

Isso não é acaso, é racismo. Um racismo institucional, operado pelo próprio Estado. Bastou Gabriel, 26 anos, furtar dois produtos de limpeza e sair correndo para que a arma do PM Vinícius Lima Britto disparasse, automaticamente, 11 vezes contra ele. Pelas costas.

Ryan, de 4 anos, foi alvejado pela bala da polícia de São Paulo durante uma operação policial violenta em uma comunidade de Santos. Como se a vida das pessoas negras e pobres valesse nada. Não importa se são crianças ali na calçada.

Em outro local da periferia da capital paulista, o susto com uma abordagem policial bastou para que um agente de segurança pública arremessasse Marcelo, 25 anos, de cima de uma ponte. O jovem não portava nada ilícito. Em sua justificativa para a atitude bárbara, o policial alegou que se tratava de uma região de alto risco por causa de um baile funk. Testemunhas afirmam que a polícia impediu o socorro. Foi “erro emocional”, disse o coronel Cássio Araújo de Freitas, comandante-geral da PMSP. Santa paciência! Erro emocional é a ausência de uma revolta generalizada da população contra as polícias e o estado brasileiro.

No dia ​​1º de dezembro deste ano, fez cinco anos que a Polícia Militar paulista operou um massacre em Paraisópolis, a maior favela de São Paulo. Deixou nove jovens mortos, a maioria negros. Eles estavam num baile funk. Até agora, nenhum dos 12 agentes sequer prestou depoimento. Deve ser “erro emocional” do Judiciário racista de SP.

Uma das mais graves violações de direitos humanos já produzidas por policiais foi o Massacre do Carandiru, em 1992. Foram mortos pelo menos 111 pessoas sob custódia do Estado. Até hoje ninguém foi responsabilizado. O recado que se dá é um salvo conduto para a polícia continuar matando pessoas negras e pobres.

A violência policial no estado de São Paulo é histórica. Mira especialmente em pessoas negras. Ela se agrava quando quem está no comando compõe com o descaso por essas vidas. O governador Tarcísio de Freitas e seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, não só corroboram com ações violentas das polícias como também usam esse discurso para se promoverem diante de seus eleitores. Como se a promessa de uma política genocida  resolvesse o problema da segurança pública.

Em um ano, as operações Escudo e Verão da PM de SP, no litoral paulista, deixaram 84 mortos, evidências de execução sumária e tortura. Tarcísio ironizou a contabilidade de vidas ceifadas. “Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. (…) E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”, disse, em março. Já Derrite alegou que “nem sabia” o total de pessoas mortas por seus agentes.

O governo paulista também impôs novas diretrizes para o uso de câmeras corporais nos uniformes de policiais. O uso do equipamento é capaz de reduzir o número de mortos pelas polícias. Mas Tarcísio e Derrite determinaram o fim das gravações ininterruptas, tornando esse meio de fiscalização e vigilância ineficiente.

Esse espírito que zela pelo uso da violência é típico de governos autoritários – e cai muito bem para a extrema-direita e seus adoradores. Não respeita as instituições democráticas e tampouco o direito à vida.

Por isso é fundamental que todas as instâncias de governos se coloquem contra esse tipo de comportamento letal das forças de segurança pública. Já que não se espera nada do governo de SP, precisamos da postura do governo federal. É preciso que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, condene essas ocorrências. Também é necessário que o próprio presidente Lula e outros ministros se posicionem contra a banalização das vidas negras pelas polícias. Afinal, isso não é privilégio paulista. A atuação policial é condenável em todos os estados brasileiros. Trata-se de um problema nacional.

E se espera ouvir as vozes não apenas de governantes, mas de todos os setores que se dizem progressistas e democratas. Todos aqueles que arrotam defesa da democracia, que se mobilizam em eleições pela vitória do ”campo democrático contra o fascismo”, Que se preocupam com “representatividade e empoderamento negro”, que se mobilizam para salvar o planeta das mudanças climáticas e a vida das baleias, onde estão? Precisamos de vocês!

Calar diante da violência policial que assola a população negra é mais que consentir, é apoiar uma política genocida contra o povo negro brasileiro.

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Last Update: 06/12/2024