
O julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete réus pela tentativa de golpe de Estado começou nesta terça (2) no Supremo Tribunal Federal. A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta a acusação com base em documentos, anotações e arquivos secretos apreendidos pela Polícia Federal e na delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente.
Segundo a PGR, os réus foram divididos em cinco núcleos, sendo o “núcleo crucial” formado pelos principais articuladores da trama golpista. Nesse grupo estão ex-ministros, militares e aliados políticos de Bolsonaro, acusados de planejar a ruptura democrática após a derrota eleitoral de 2022.
Um dos principais indícios é um caderno encontrado na casa do general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI. Nas páginas havia anotações que colocavam em dúvida o sistema eleitoral, sugeriam ataques à urna eletrônica e estratégias de comunicação. Também havia menções a aliados e até referência à médica Nise Yamaguchi. A defesa alega que eram apenas registros pessoais sem conexão com golpe.

Outro elemento é um arquivo digital intitulado “Bom dia Presidente”, ligado a Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e hoje deputado. O texto falava em vulnerabilidades da urna eletrônica e citava o apoio de militares, como o major Angelo Denicoli. Para a defesa, trata-se apenas de compilações de críticas já conhecidas de Bolsonaro.

A investigação encontrou ainda um documento intitulado “Planejamento Punhal Verde Amarelo”, em um HD do general da reserva Mário Fernandes. O material previa atentados contra Alexandre de Moraes, Lula e Geraldo Alckmin, usando armas pesadas e codinomes como “Jeca” e “Joca”. O plano teria sido apresentado a Bolsonaro em novembro de 2022, mas acabou abortado após a recusa do comando do Exército em aderir.

No celular de Mauro Cid, a PF localizou imagens de uma minuta de decreto golpista que previa a decretação de Estado de Sítio. Segundo o delator, o texto chegou a ser alterado por Bolsonaro e foi discutido em reunião com comandantes militares. A defesa, porém, ataca a credibilidade da delação e pede sua anulação.

Outro documento citado pela PGR é a minuta de criação de um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise”, datada de 16 de dezembro de 2022. O texto previa um órgão paralelo com comando de Augusto Heleno e Braga Netto, funcionando 24 horas para coordenar comunicação, operações psicológicas e articulação com caminhoneiros, indígenas e policiais.

Para a acusação, esses arquivos mostram que houve organização deliberada para tentar reverter o resultado das eleições. A defesa alega que não há prova de participação direta de Bolsonaro e que os materiais apreendidos não passam de anotações isoladas ou opiniões pessoais.