
Após o lançamento dos singles “Rosa Selvagem”, “Aqui Não É o Meu Lugar”, “Feitiço na Rua 23”, Nasi disponibiliza hoje, em todas as plataformas digitais, via Ditto Music, o álbum solo ao vivo “Solo Ma Non Troppo”.
O 9º álbum solo do cantor do Ira! é o registro do show de lançamento do álbum “Rock Soul Blues”, lançado em 2024. O espetáculo foi gravado em abril de 2024 no Teatro Raul Cortêz, no Sesc 14 Bis, em São Paulo.
O repertório traz as oito faixas de “Rock Soul Blues”, a maioria composta ou interpretada por artistas que Nasi sempre admirou, como Zé Rodrix, Tim Maia, Erasmo Carlos, Jerry Lee Lewis e Martinho da Vila.
Nasi também revisitou outros momentos de sua extensa carreira solo, como “Feedback” – um hard soul com ares de anos 60, parceria de Nasi com Johnny Boy, escolhida como novo single –, “Perigoso”, “Poeira nos Olhos”, “O Rei da Cocada Preta”, entre outras.
O show ainda contou com as participações especiais de Nanda Moura, cantora e guitarrista de Blues de grande destaque nacional, Denilson Martins, excelente virtuoso e respeitado saxofonista na cena paulista, e o guitarrista Jeff Berg, produtor e engenheiro musical de Nasi e também do IRA!
A seguir, a entrevista:
DCM – Como foi a gestação desse novo trabalho? Ele é um compilado ao vivo?
Nasi – Quando do lançamento do álbum “Rock Soul Blues”, no Teatro do SESC 14 Bis, pelo fato de eu ter conseguido reunir todas as participações especiais do álbum anterior ao “Rock Soul Blues”, e, na verdade, esse show que gravei foi o lançamento do álbum “Rock Soul Blues”, tá?! Eu resolvi contratar uma equipe de gravação para registrar o show, sem necessariamente ter a decisão de lançar o ao vivo, mas ver como sairia o resultado. Tanto que nem avisei a banda, nem os artistas convidados, e o resultado foi tão bom que resolvi mixar e lançá-lo. E, realmente, esse trabalho é uma compilação de momentos da minha carreira solo, tirando o álbum “Rock Soul Blues”, cujas 8 faixas estão na íntegra, de toda a minha carreira solo. Acho que deu um panorama muito bem representado sobre tudo o que eu fiz durante esses 30 anos de Nasi solo.
Voltando ao incidente com a plateia, quando você pediu um “Anistia, é o carralho…!!!” Os efeitos são uma retomada do IRA! nos trilhos da resistência e coerência política?
Nasi – Eu não diria que é uma retomada, porque o IRA! nunca saiu do lugar de ser uma banda cujos líderes, eu e Edgard Scandurra, temos uma visão progressista da sociedade. Queremos uma sociedade progressista. Poxa, o IRA! chegou na época da ditadura militar, em 1984, a fazer shows juntamente com outros artistas do punk e pós-punk, no Teatro Ruth Escobar, para mandar remédios para Nicarágua. Começou por aí. Depois, em vários outros momentos, como cidadãos ou como artistas, nos posicionamos por causas que eu acho que são extremamente relevantes e supra partidárias, como me manifestei há um tempo, um ou dois anos atrás, sobre a questão da criminalização de menores estupradas e grávidas, cuja bandeira é “Criança não é mãe”. Eu não sou um artista palestrinha, entendeu?! Não fico fazendo palestra no meu show, mas não vou me calar.
Após o evento e mal-estar com o público reacionário, qual foi o resultado? O IRA! vendeu mais shows ou os cancelamentos de eventos foram significativos?
Para o nome IRA!, foi excelente as pessoas lembrarem qual é a essência do IRA! É óbvio que tivemos shows cancelados, principalmente pelo poder econômico, no caso empresários, patrocinadores que fizeram essa pressão — que eu diria fascista — sobre a nossa agência, mas tudo está sendo retomado. Shows que foram cancelados vão entrar em outras cidades no lugar. Mal chegamos no meio do ano e já temos dezenas de shows. Essa turnê vai ultrapassar 2025 para 2026, por isso estamos tranquilos.
A turnê IRA! Acústico 20 Anos, mais o disco novo… Como dar conta dessa agenda?
Como sempre, né? Um jogo de cintura, porque a agenda do IRA! é sempre muito grande. Então, é difícil para mim e para o Edgard Scandurra nos dedicarmos às nossas carreiras solo no palco. Uma coisa é lançar disco, outra coisa é fazer turnê ou shows. Poxa, estou super feliz com o resultado desse álbum. É o quarto álbum solo que eu lanço nos últimos cinco anos. Lancei um disco de inéditas com o IRA! em 2020, “Nasi e Os Spoilers” solo em 2022, “Rock Soul Blues” em 2024, e agora, em 2025, “Solo Ma Non Troppo”. Então, isso mostra que eu não sou um artista que fica deitado em berço esplêndido. Poxa, fico feliz. Fico feliz agora por estar recebendo as primeiras resenhas, críticas, todas muito elogiosas.
Você acha que o repertório do IRA! não “envelhece na cidade”? As questões e reclamações dos anos 80 ainda são uma preocupação?
Claro que sim. Acho que não só com o IRA!, mas também músicas que os Titãs, os Paralamas e a Legião Imortalizaram. Tanto questões sociais quanto questões existenciais ainda hoje tocam corações e mentes. Quero ver artistas contemporâneos conseguirem ter sucesso com músicas que foram lançadas há 20, 30, 40 anos atrás. Infelizmente, isso me parece que não existe mais.
Pegando uma frase de uma música da banda “Voluntários da Pátria”, na qual você foi vocalista em uma das formações: “cadê o socialismo”?
Continua em pé, você ser um socialista, um social-democrata à moda europeia, né? Um progressista de maneira mais ampla significa combater os crimes ambientais, coisa que estamos vendo hoje. O que aconteceu com a Marina Silva e esse Congresso e Senado espúrios, que estão fazendo em um Brasil que vai receber a COP30? Lutar contra a desigualdade social e sua divisão das riquezas. Não precisa ser comunista para isso não. Eu li agora, esses dias, que das 10 pessoas mais ricas do país, 5 são pastores evangélicos. Como é possível isso? Eu sei como é possível: isenção fiscal, redes de TV e rádios, exploração da fé com pessoas humildes. Cadê o socialismo? A saúde pública e educação públicas sucateadas, até hoje. Inclusive, uma crítica a esse governo também. Cadê o socialismo? Lutar contra golpe militar e seus golpistas, em última palavra, é uma necessidade progressista. Eu pergunto: cadê o socialismo? Eu estou procurando até hoje, quem sabe um dia eu encontro.