Cada passo que eu ando

por Romério Rômulo

Vou fechado numa ostra
de duro traço barroco
cercado de ouropéis
com cavas recalcitrantes

Me enfeio de tanto orgulho
que chego a perder de mim
o olhar mais transluzido
a boca mais apagada

Aqui nesta terra podre
são os cães que me carregam
em traços duros da vida
na caminhada das ruas

Se falo que ostra sabe
onde caibo, onde não caibo
sei que a ostra não me sabe
por me ver pó, de esguelha

E quando vierem montes
de montanhas infernais
das Minas mais pedregosas
onde amarro meus lençóis

Cada passo que eu ando 
é uma ave de rapina
que pretende me abater
e digerir, a montante

Viro rio, sempre ingrato
de águas mais pardacentas
e bebo todas as trevas
que comem meu coração

Estendo as mãos pela noite
ato todas as emendas
e vou (cortando pedaços)
nutrir o mundo que sobra.

Romério Rômulo (poeta prosador) nasceu em Felixlândia, Minas Gerais, e mora em Ouro Preto, onde é professor de Economia Política da UFOP e um dos fundadores do Instituto Cultural Carlos Scliar – Rio de Janeiro RJ.

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Last Update: 31/01/2025