
O treinador brasileiro Antônio Guerra Peixe, de 68 anos, vive dias de tensão em Teerã, capital do Irã, desde que foi surpreendido pela escalada do conflito com Israel. Ele chegou ao país no início de abril para trabalhar com a seleção adulta de handebol de areia e, desde então, vê o cenário se deteriorar a cada dia.
“Estávamos no aeroporto prontos para embarcar quando escutei uma explosão. Houve alvoroço, nosso voo foi cancelado e desde então tudo piorou”, relatou à BBC Brasil. Ele faz parte de um grupo de brasileiros que aguarda ajuda da embaixada para deixar o Irã.
Segundo o encarregado de negócios da embaixada brasileira em Teerã, Felipe Flores Pinto, entre 50 e 200 brasileiros vivem atualmente no país. Desses, ao menos dez já solicitaram repatriação, incluindo turistas, atletas e técnicos. “Estamos avaliando opções, e a fronteira do Azerbaijão é hoje a alternativa mais viável”, explica.
Desde o cancelamento do voo, Antônio permanece em um hotel na região norte de Teerã, onde também se abrigam outros estrangeiros. Ele afirma que não sai do edifício e se sente seguro por estar em um bairro residencial e diplomático. “A embaixada tem sido muito atenciosa, mas está demorando muito para nos retirarem. Cada dia aqui parece mais perigoso”, diz.
Nos arredores, o cenário é desolador. Segundo o brasileiro, não há circulação nas ruas, e o hotel reduziu as opções de alimentos no café da manhã. “Não está faltando comida, mas já percebi menos sucos e frutas. O movimento sumiu. Quando olho pela janela, não vejo ninguém”, relata.

A capital iraniana vem sendo atingida por bombardeios desde a última semana. De acordo com a ONG Human Rights Activists, mais de 580 pessoas morreram em decorrência dos ataques no país. Apesar disso, serviços essenciais como energia e água ainda estão funcionando.
“A cidade não colapsou, mas está vazia. Muita gente foi para casas de veraneio ou cidades do interior. Supermercados ainda funcionam, mas carne e arroz estão mais difíceis de encontrar”, diz o diplomata brasileiro.
O hotel onde Antônio está hospedado possui uma área subterrânea que pode servir como abrigo em caso de emergência. “Teve um dia em que ouvimos explosões e foi tenso. Disseram que, se piorasse, poderíamos descer. Ainda não foi necessário”, conta.
Diante da incerteza, ele tenta manter a calma e evita acompanhar notícias com frequência. “Cada lugar diz uma coisa. A contrainformação também é uma arma de guerra. Todo mundo no Brasil me manda mensagem pedindo que eu saia logo, mas não é simples. A logística aqui é complicada”, lamenta.
A expectativa, segundo a embaixada, é organizar a saída dos brasileiros por via terrestre, já que os voos seguem cancelados ou altamente restritos. Ainda não há previsão oficial para a repatriação. Enquanto isso, Antônio e outros brasileiros permanecem aguardando, em clima de crescente ansiedade.