
A comunidade brasileira nos Estados Unidos está se mobilizando para denunciar o aumento da violência contra imigrantes e cobrar ações mais efetivas do governo brasileiro. Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (11), em Boston, entidades que representam os imigrantes anunciaram o envio de uma carta ao governo Lula, alertando que os brasileiros estão sendo “caçados como animais” e pedindo medidas urgentes. Esta é segunda mobilização organizada em que grupos brasileiros pedem ajuda a Lula.
Segundo as organizações, as prisões de brasileiros aumentaram 400% desde janeiro, com um crescimento de 50% apenas entre abril e maio. Os números absolutos não foram divulgados, mas os relatos de abusos são cada vez mais frequentes. Entre as principais demandas ao governo brasileiro estão:
1. Atuação conjunta com o governo dos EUA para aplicar a convenção contra tortura e maus-tratos;
2. Ampliação da capacidade consular para emissão de documentos;
3. Realização de uma audiência pública na Câmara dos Deputados com organizações da sociedade civil;
4. Criação de canais permanentes de comunicação com postos diplomáticos.
Lenita Reason, da Brazilian Worker Center, relatou que muitos brasileiros estão com medo de sair de casa. “Pessoas estão sendo presas e ficando mais de 12 horas dentro de carros, antes de ir a uma prisão”, disse. Ela destacou ainda a dificuldade de famílias que desejam voltar ao Brasil, mas não têm documentos.
Renata Bozzeto, da Florida Immigrant Coalition, denunciou a atuação agressiva da polícia local. “Um carro pode ser parado por não ter farol, e o resultado é a prisão do motorista por estar irregular no país”, explicou.

Ela também relatou casos de imigrantes que tentaram regularizar sua situação e foram presos imediatamente após a negativa do pedido. “Não podem nem se despedir de seus filhos. Isso é desumano”, afirmou.
A escassez de funcionários nos consulados brasileiros nos EUA tem agravado a situação. Em Boston, a procura por serviços emergenciais aumentou sete vezes em comparação com 2024. Muitos imigrantes buscam renovar passaportes e emitir certidões de nascimento para evitar a separação de suas famílias em caso de deportação.
Liana Costa, ativista pela causa dos imigrantes, pediu que o Itamaraty encontre formas de validar documentos remotamente. “É importante que os consulados sejam socorridos”, disse.
Álvaro Lima, do Instituto Diáspora Brasileira, lembrou que a comunidade brasileira gera bilhões de dólares para a economia local e é responsável por 82 mil empregos diretos e indiretos: “Hoje somos caçados como animais. Não somos animais. Somos seres humanos. Precisamos agir e precisamos do apoio de nosso governo”.
A deputada estadual Priscila Souza, de Massachusetts, destacou que até políticos republicanos estão constrangidos com a dimensão das violações. “Não imaginavam que seria assim”, contou.