A cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (BA), voltou a ser protagonista da indústria automotiva brasileira nesta terça-feira (1º), com a inauguração da fábrica da montadora chinesa BYD (Build Your Dreams). Instalada no antigo complexo da Ford e voltada à produção de veículos elétricos e híbridos, a unidade é a primeira da empresa fora da Ásia e já emprega cerca de mil pessoas. A expectativa é que, com o pleno funcionamento do complexo, o número de postos de trabalho diretos e indiretos chegue a 20 mil.
“Estamos falando de um novo momento do Polo Industrial de Camaçari, 47 anos após sua criação. Esta não é uma planta comum. É um polo voltado para a transição energética, inovação tecnológica e sustentabilidade”, afirmou o governador Jerônimo Rodrigues (PT), durante a cerimônia de inauguração. O evento contou com a presença de autoridades brasileiras e chinesas, entre elas a CEO da BYD Américas, Stella Li, e o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao.
BYD já investiu R$ 1,4 bilhão na unidade baiana e inicia produção de modelos híbridos e elétricos
A BYD investiu R$ 5 bilhões no Brasil, sendo R$ 1,4 bilhão apenas na fábrica baiana, que vai iniciar sua produção com os modelos Dolphin Mini (elétrico) e Song Plus (híbrido plug-in), a partir de kits semidesmontados (SKD) importados da China. O objetivo é alcançar 50 mil unidades produzidas ainda em 2025 e atingir 150 mil veículos por ano a partir de 2026, com aumento progressivo da nacionalização.
A planta de Camaçari será espelho da unidade da empresa em Changzhou, na China, conhecida pela automação de ponta e eficiência na montagem de veículos em até quatro horas. No Brasil, o plano é criar também um centro de pesquisa e desenvolvimento, além de uma cadeia nacional de fornecedores e, futuramente, a produção local de baterias — setor estratégico na cadeia dos veículos elétricos.
Empregos imediatos e qualificação profissional: impacto direto na economia baiana
Logo na inauguração, a BYD já anunciou a abertura de 508 novas vagas de trabalho, intermediadas pelo SineBahia, com perfis variados: operador de produção, soldador, operador de empilhadeira, logística e mais. Para garantir que a mão de obra local seja beneficiada, a Secretaria do Trabalho da Bahia (Setre) lançou programas de qualificação técnica focados na indústria automotiva elétrica.
“É uma oportunidade de transformar a vida de milhares de famílias e de posicionar a Bahia na vanguarda da mobilidade sustentável”, comemorou Augusto Vasconcelos, secretário estadual do Trabalho. Segundo ele, a parceria estratégica com a BYD já é considerada uma das maiores apostas de reindustrialização no estado desde o encerramento das atividades da Ford em 2021.
Transição energética e reindustrialização verde: o Brasil como base exportadora
Com a produção local, a BYD pretende não apenas disputar o mercado nacional — onde já vendeu 47 mil veículos só este ano —, mas também transformar o Brasil em base exportadora para a América do Sul. O plano é acelerar a substituição dos kits SKD por veículos desmontados (CKD) e, até o fim de 2025, alcançar a montagem nacional completa.
A empresa também detém direitos de exploração de lítio em Minas Gerais, mineral essencial para as baterias dos veículos elétricos, o que pode dar ao Brasil protagonismo em toda a cadeia da eletromobilidade.
Disputa acirrada no mercado de eletrificados e impacto da nova política tarifária
A chegada da BYD acontece num momento de intensa competição no setor automotivo brasileiro. Outras montadoras chinesas, como GWM, Omoda & Jaecoo, Geely e GAC, também avançam com planos de produção ou comercialização no país. O mercado de eletrificados deve vender 170 mil unidades em 2025, com crescimento contínuo nos próximos anos.
A política de reoneração das alíquotas de importação também pressiona os preços. A partir deste mês, os carros elétricos importados passam a pagar 25% de imposto (em vez dos 18% anteriores), e híbridos plug-in sobem de 20% para 28%. Até 2026, a alíquota chega a 35%. A BYD pediu redução nas taxas para seus kits SKD e CKD, mas ainda aguarda decisão da Camex.
Ao transformar um antigo símbolo da indústria automobilística em um novo centro de tecnologia limpa e geração de empregos, a BYD inaugura mais do que uma fábrica: inaugura um futuro possível para a indústria brasileira baseada em inovação, sustentabilidade e desenvolvimento com inclusão.