O Ministério do Trabalho autuou a BYD por manter 163 trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão em uma obra de construção de sua unidade fabril em Camaçari, na Bahia.
Os auditores identificaram condições degradantes no local. Os trabalhadores dormiam em camas sem colchões e não dispunham de armários, sendo obrigados a manter seus pertences misturados a ferramentas de trabalho e alimentos, tanto crus quanto cozidos.
Em um dos alojamentos, havia apenas um banheiro disponível para 31 pessoas. A água consumida era retirada diretamente da torneira, sem qualquer tipo de tratamento.
Também foi constatado que os trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho exaustivas de, no mínimo, 10 horas diárias, sem a concessão regular de folgas. Um trabalhador acidentado relatou estar há 25 dias sem descanso.
A pasta anunciou o resultado de diligências realizadas entre dezembro de 2024 e maio deste ano nesta quarta-feira 4.
Fraude migratória
Durante as investigações se constatou também que os trabalhadores submetidos às condições degradantes integram um grupo ainda maior, de 471 chineses que foram trazidos de forma irregular ao Brasil.
Os auditores-fiscais identificaram indícios de fraude às autoridades migratórias brasileiras, promovida pela própria montadora, com o objetivo de viabilizar a entrada dos trabalhadores estrangeiros no país sem o devido registro e em desacordo com a legislação vigente.
Os fiscais, diante das comprovações, lavraram mais de 60 autos de infração às leis brasileiras; cabe recurso à montadora chinesa. Caso as explicações não sejam aceitas pelo governo, a empresa será multada.
A obra
A montadora chinesa de carros elétricos iniciou a construção de seu polo industrial em Camaçari no ano passado, e deve colocá-lo em operação ainda este ano. Segundo a empresa, serão investidos 5,5 bilhões de reais para a operacionalização da fábrica, que terá capacidade inicial para entregar até 150 mil veículos por ano.
O que diz a BYD
Sobre o episódio envolvendo o abuso contra trabalhadores chineses no Brasil, a BYD já disse repudiar os tratamentos aplicados por “funcionários de empresas terceirizadas” que teriam sido contratadas para a obra na Bahia. Na ocasião, a empresa da China rompeu o contrato com a empreiteira. A montadora, porém, ainda não comentou as novas conclusões do governo brasileiro.