Afastamentos por transtornos mentais atingem maioria feminina
Em 2024, as mulheres representaram 63,8% dos mais de 472 mil afastamentos registrados no Brasil por transtornos mentais. Os dados são do Ministério da Previdência Social e indicam que o burnout tem afetado com mais intensidade a força de trabalho feminina.
O burnout é caracterizado por esgotamento físico e mental em decorrência do estresse crônico no ambiente de trabalho. A prevalência entre mulheres reflete desequilíbrios estruturais e culturais que persistem mesmo após a pandemia.
Fatores estruturais ampliam o esgotamento feminino
Segundo Fernanda Paiva, especialista em comportamento humano e fundadora do Instituto Diálogos, a sobrecarga de tarefas e a falta de reconhecimento são determinantes para o aumento dos casos.
De acordo com ela, mulheres acumulam funções profissionais com responsabilidades domésticas e de cuidado, geralmente não remuneradas.
Esse cenário impõe uma pressão contínua, que favorece o ciclo de esgotamento.
Além disso, a cultura corporativa que associa excesso de trabalho a bônus e promoções também reforça a sobrecarga feminina, uma vez que as recompensas são menores para elas.
Vieses de gênero impactam reconhecimento profissional
A desigualdade de tratamento no ambiente corporativo também contribui para o burnout.
Estudos indicam que, mesmo quando mulheres trabalham as mesmas horas que homens e apresentam desempenho equivalente, os retornos financeiros e as oportunidades de crescimento são desiguais.
Uma pesquisa publicada na Social Psychology Quarterly mostrou que homens que fazem horas extras são frequentemente recompensados com bônus e promoções.
Por outro lado, mulheres que fazem o mesmo esforço recebem menos reconhecimento, mesmo com o mesmo nível de competência.
Burnout afeta 1 em cada 4 mulheres, aponta levantamento
Outro levantamento, desta vez da consultoria global Deloitte, mostrou que 25% das mulheres entrevistadas relataram sentir esgotamento profissional em 2024.
O dado confirma a dimensão do problema e reforça a necessidade de revisão de práticas organizacionais.
Segundo Paiva, a situação é ainda mais desafiadora para mulheres negras, periféricas ou mães solo, que enfrentam múltiplas camadas de invisibilidade e acúmulo de responsabilidades.
Diagnóstico de burnout já está em vigor no Brasil
Desde 2025, o burnout passou a constar oficialmente na nova Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional.
No Brasil, pacientes diagnosticados com o quadro apresentam sintomas como exaustão física e mental, insônia, alterações de humor, dores musculares, taquicardia e sensação de fracasso.
Para Paiva, “o problema é estrutural e cultural”. Ela defende que empresas repensem suas práticas e deixem de impor expectativas irreais às mulheres, além de garantir igualdade no acesso a promoções e desenvolvimento profissional.
Segundo ela, organizações que ignoram essas desigualdades podem enfrentar dificuldades para reter talentos femininos.