O regime de Nayib Bukele, em El Salvador, frequentemente elogiado pela imprensa burguesa internacional como exemplo de “eficiência” no combate ao crime, é, na verdade, uma das experiências mais brutais de repressão, autoritarismo e neoliberalismo na América Latina recente. A reportagem do The Grayzone, que expõe o acordo secreto entre Bukele e as principais gangues do país, apenas confirma o que já é denunciado há anos pelos setores mais combativos da esquerda latino-americana: a chamada “Pax Bukele” – o estado de emergência permanente só foi possível graças a uma aliança entre o governo e o crime organizado, que pavimentou o caminho para a ascensão política do atual presidente. Esse pacto, mantido sob sigilo e agora revelado por jornalistas e por líderes das próprias gangues, permitiu a Bukele criar a aparência de estabilidade e segurança; enquanto, nos bastidores, negociava privilégios e benefícios para os chefes do crime em troca de apoio eleitoral e redução da violência ostensiva.

Segundo a reportagem, esse pacto foi confirmado por líderes das próprias gangues em entrevistas ao jornal El Faro, que detalharam como o governo ofereceu benefícios a chefes presos, permitiu que algumas facções mantivessem áreas de influência e até colaborou na distribuição de cestas básicas durante a pandemia, em troca da diminuição dos homicídios e do apoio político das bases criminosas à candidatura de Bukele. O acordo teria sido fundamental para a ascensão política do presidente, desde sua eleição como prefeito até a conquista da presidência, já que Bukele não contava com uma base social genuína, mas sim com o suporte digital e o respaldo das gangues nos territórios populares.

O regime de Bukele é a expressão mais acabada do fascismo contemporâneo na América Central. Desde 2022, o país vive sob um estado de exceção que transformou El Salvador em uma verdadeira prisão a céu aberto. Mais de 85 mil pessoas foram encarceradas em menos de dois anos, incluindo milhares de jovens pobres, trabalhadores, militantes, sindicalistas, defensores de direitos humanos, e até crianças. As prisões ocorrem sem qualquer respeito ao devido processo legal, baseadas em denúncias anônimas, aparência física ou simples suspeita, e são acompanhadas de tortura, desaparecimentos forçados e mortes sob custódia. O símbolo máximo dessa política de terror é o CECOT, a mega prisão projetada para 40 mil detentos, onde presos vivem em condições desumanas, sem contato com familiares ou advogados, submetidos a maus-tratos e à privação total de direitos básicos.

A reportagem do The Grayzone também destaca a corrupção e a crueldade por trás do projeto carcerário de Bukele, revelando que o endurecimento penal serve, na prática, para fortalecer o aparato repressivo do Estado e garantir lucros bilionários para empresas de segurança e tecnologia, muitas delas ligadas ao sionismo. O próprio Bukele não esconde sua admiração pelo modelo nazista de “Israel”, importando armamentos, sistemas de vigilância e métodos de controle social que fazem de El Salvador um laboratório de experiências para a repressão.

Toda essa farsa de “combate ao crime” é, na verdade, uma política de guerra aberta contra o povo trabalhador. Enquanto a imprensa burguesa celebra a queda dos homicídios, os dados econômicos mostram o aprofundamento da miséria: a pobreza aumentou, a extrema pobreza dobrou desde o início do governo Bukele, e a política neoliberal de arrocho fiscal, congelamento de salários, demissões em massa e entrega do patrimônio nacional ao capital estrangeiro avança sem resistência. O regime só se sustenta graças ao apoio do imperialismo, especialmente dos Estados Unidos, que enxergam em Bukele um instrumento para garantir o saque dos recursos salvadorenhos e a contenção popular na América Latina.

Além da repressão física, o regime impôs uma ditadura digital e judicial: perseguição a opositores, censura à imprensa independente, espionagem com uso de softwares israelenses e concentração total do poder nas mãos do Executivo. O caso do jornal El Faro, forçado ao exílio, e a demissão sumária de juízes e procuradores críticos ao governo, ilustram o caráter abertamente ditatorial do regime.

Portanto, a denúncia do acordo entre Bukele e as gangues, longe de ser um escândalo isolado, revela a essência de um governo que utiliza o terror de Estado para garantir a dominação do imperialismo e dos grandes capitalistas sobre um povo cada vez mais empobrecido e privado de direitos.

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Last Update: 15/06/2025