Há exatos seis anos – 25 de janeiro de 2019 -, o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, da mineradora Vale, deixou 272 mortos em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). Desde então, famílias das vítimas cobram da Justiça indenizações pela tragédia, que marcou um capítulo importante dos desastres ambientais do país.
Apesar do evento, Minas Gerais ainda convive com o risco de acidentes da mesma natureza. Segundo dados da Agência Nacional de Mineração (AMN), o estado abriga, atualmente, 43 estruturas em nível de alerta ou emergência. Esse valor representa 42% do total de barragens que estão em situação semelhante em todo o país.
A tragédia de 2019 deixou consequências graves no solo e nos rios da região de Brumadinho. O acúmulo de metais pesados se tornou uma constante, ampliando os riscos ao meio ambiente e à saúde da população.
Segundo um estudo da Universidade Federal Fluminense, conduzido pelos pesquisadores Andressa Christy Buch e Emmanoel Vieira da Silva-Filho, o solo da região passou a concentrar metais acima dos padrões estabelecidos por normas locais e internacionais: arsênio, cobre, cádmio, cromo, mercúrio, níquel e chumbo são alguns dos exemplos.
Todo esse cenário tem feito com que crianças de até 6 anos de idade venham apresentando um aumento na taxa de detecção de metais na urina, conforme um estudo da Fiocruz Minas e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Essas taxas já eram altas em 2021 e passaram a ser ainda maiores em 2023.
Uma tragédia de tal magnitude não impactou apenas o solo da região e a saúde física dos habitantes, mas trouxe consequências à saúde mental. Casos de episódios de depressão e ansiedade passaram a ser registrados com mais frequência. No caso de adultos e adolescentes, a proporção de episódios depressivos subiu de 28,8% para 38,4% e de 19,2% para 30,8%, respectivamente, entre 2021 e 2023. Os dados também são da Fiocruz.
É de se imaginar que a tragédia em Brumadinho exija uma responsabilização significativa por parte dos envolvidos, o que é uma demanda há anos. Atualmente, 15 pessoas respondem por homicídio doloso e as empresas Vale S.a. e Tuv Sud (que atesta a segurança da barragem) respondem por uma série de delitos.
Mas, na Justiça, o sentimento é de frustração. Até a data que marca os seis anos da tragédia, ninguém foi responsabilizado criminalmente. Enquanto isso, Brumadinho segue encarando uma realidade marcada por contaminações e riscos.
Em 2021, o governo de Minas Gerais e a Vale entraram em um acordo que prevê o encerramento de programas e o pagamento de auxílio emergencial às famílias atingidas até que seja possível retomar o padrão de vida anterior.
Até agora, porém, a retomada desse padrão estimado está longe de ser uma realidade. Segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que falou à Agência Brasil sobre o tema, as pessoas “continuam sem fonte de renda, até porque muitas famílias viviam do rio, que até hoje está contaminado”. “Há, até hoje, poeira por todo lado, e não há qualquer certeza sobre a qualidade da terra e da água”.
Além do fato de que ninguém foi responsabilizado criminalmente pela tragédia, os programas de reparação só reconheceram 10% das pessoas atingidas pela tragédia, segundo o MAB. A Vale, por sua vez, diz que o acordo feito com a gestão mineira reafirma o “compromisso em garantir o direito das pessoas” e que já recuperou parte da bacia do Ribeirão Ferro-Carvão. Outra medida citada pela empresa é a melhora do monitoramento da água do Rio Paraopeba, que fica na região.
No total, o desastre em Brumadinho atingiu 1 milhão de pessoas e afetou 26 municípios.