Encontro de mulheres parlamentares é marcado por troca de experiências e busca de soluções com foco em governança global, atenção às IAs e sustentabilidade; participantes defendem observatório do clima e da mulher
A Reunião de Mulheres Parlamentares do BRICS deu pontapé inicial, nesta terça-feira (3), do 11º Fórum Parlamentar do bloco, que é realizado no Congresso Nacional até o dia 5. Mulheres parlamentares de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Irã passaram o dia reunidas para debater importantes assuntos que fazem parte da rotina de milhões de mulheres do Sul Global. Esta é a segunda edição do Fórum de Mulheres Parlamentares; a primeira foi realizada no ano passado, em Maceió, e teve como resultado a Carta de Alagoas.
Foram quatro sessões de trabalho para discutir temas como Mulheres na Era da Inteligência Artificial: Entre a Proteção de Direitos e Inclusão Feminina na Economia Digital; Fortalecendo as Mulheres para enfrentar a Crise Climática: Perspectivas do BRICS e; Construindo o futuro: as Mulheres Parlamentares e a Agenda BRICS 2025. Além dessas reuniões, houve uma discussão sobre o intercâmbio com o Banco do BRICS (NBD), com o tema “Mulheres como agentes e beneficiárias de financiamentos”.
O encontro foi palco para trocas de ideias e experiências, além de ser um espaço para a construção de caminhos possíveis com foco na elaboração de um pacto dentro do BRICS, rumo a uma marcha mundial com foco na ampliação da participação de mulheres na política.
De todos os temas, o que mais se mostra como urgente para as parlamentares brasileiras é o da ampliação da participação feminina nos espaços de poder. O Brasil ocupa a 133ª posição no ranking mundial de mulheres na política. Para se ter uma ideia, Ruanda, Cuba, Nicarágua, Andorra e Emirados Árabes Unidos, ocupam os primeiros lugares na presença de mulheres no parlamento.
A deputada federal e coordenadora da Bancada Feminina da Câmara, Jack Rocha (PT-ES), afirmou que o fórum parlamentar do BRICS reforça o papel das mulheres nos espaços de poder. “As mulheres brasileiras que estão aqui no Parlamento, mesmo sendo 18%, integram a maior bancada feminina da história. Somos responsáveis por mais de 40% da produção legislativa desta Casa. Então, além de produzir leis, participar dos debates, não apenas relacionados às mulheres, conseguimos ainda dar resposta em outros dilemas econômicos, culturais, na saúde, dilemas ambientais”, disse.
Questionada sobre qual é a expectativa em relação aos debates, e como eles podem se materializar em discussões posteriores no Congresso Nacional, bem como nos parlamentos de cada país, a deputada capixaba afirmou que primeiro deve haver o fortalecimento da agenda que trata da participação das mulheres na política. Segundo ela, a maioria dos parlamentos dos países do bloco têm uma média de participação feminina acima de 30%.
Espera-se, portanto, que haja uma troca de experiências, e que o Congresso brasileiro aprenda com os países que já alcançaram um patamar de igualdade nos parlamentos entre homens e mulheres.
“O nosso Congresso Nacional, por exemplo, congrega 18% de participação feminina. Esse é um trabalho que a coordenação geral, tanto da Câmara quanto do Senado, vai buscar liderar e intensificar nesse semestre, que é a reserva de cadeiras, e a participação das mulheres da política para que a gente também possa, no mínimo, acompanhar os avanços dos parlamentos estrangeiros, que têm uma maior proporção que a brasileira”, defendeu.
Atenção ao uso da Inteligência Artificial
Com o avanço do desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial, torna-se cada vez mais urgente, haver ações concretas que preservem a imagem e a dignidade das mulheres, como regulamentação de redes sociais e da internet, por exemplo.
As participantes destacaram que a inteligência artificial representa uma das maiores transformações da nossa era. Mas sua evolução carrega riscos significativos para a igualdade de gênero. A sub-representação feminina nas equipes de desenvolvimento tecnológico não é mais uma questão de números, mas, sim, um problema estrutural que limita a diversidade na perspectiva das soluções.
A ministra das Relações Exteriores substituta, Maria Laura da Rocha, defendeu ser preciso promover o acesso das mulheres à economia digital e a capacitação tecnológica: “É imperativo que construamos um agrupamento mais representativo, mais coeso e com capacidade real de ação e resposta aos desafios do nosso tempo. A voz da metade feminina da população mundial precisa estar no centro dessa construção.”
É sabido que as mulheres são, no mundo inteiro, as maiores vítimas de bullying e de violência cibernética praticada nas redes sociais. Representante do Congresso Nacional do Povo da China, Qian Fangli observou que a tecnologia digital tem reduzido barreiras e ampliado oportunidades, ao citar o exemplo de mais de 47 milhões de mulheres que atuam em plataformas de comércio digital no seu país, que disputa a liderança global no desenvolvimento da inteligência artificial generativa (aquela capaz de criar conteúdos novos a partir de modelos aprendidos).
Já a deputada Shabari Byreddy, da Câmara Baixa do Parlamento da Índia, elogiou os esforços de países que têm buscado utilizar a inteligência artificial como ferramenta de redução de desigualdades e alertou para os riscos de exclusão, caso a tecnologia não seja cuidadosamente regulada.
Sara Falaknaz, do Conselho Nacional Federal dos Emirados Árabes Unidos, destacou que a IA e a economia digital não são neutras em termos de gênero e tendem a afetar mais meninas e mulheres. Segundo ela, a estratégia nacional de empoderamento feminino no país prioriza a liderança em setores do futuro, revelou a Agência Senado.
“Como parlamentares, temos a responsabilidade de garantir que o desenvolvimento tecnológico esteja ancorado na ética, na transparência e na dignidade humana”, disse, compartilhando dados dos Emirados Árabes, onde as mulheres representam mais da metade da força de trabalho no setor espacial e 56% das graduadas no ensino superior.
Financiamento de políticas para mulheres
O último painel tratou sobre experiências relacionadas aos bancos públicos e agências de desenvolvimento junto ao governo federal, que, nesse momento, retoma a sua capacidade de investimentos. Falaram representantes do BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. “A construção de uma economia mais justa passa necessariamente por garantir às mulheres acesso aos instrumentos de financiamento e, principalmente, de autonomia econômica”, afirmou a deputada Jack Rocha.
As participantes debateram, também, a proposta da criação de um observatório do clima e da mulher dos BRICS. Foram destacados como o acesso ao crédito e a mecanismos econômicos podem facilitar o financiamento para as mulheres de baixa renda, seja no empreendedorismo, seja na inovação, na agricultura ou em projetos de impacto social.
Da Redação do Elas por Elas, com informações da Agência Senado e Agência Câmara