A Declaração Final da XVII Cúpula do BRICS representa um tijolo na cara do imperialismo americano e sua corte de vassalos do Norte Global.
O trocadilho é fácil de entender – BRICS em inglês significa “tijolo”, e a carta final do encontro no Rio de Janeiro funciona como um tijolo arremessado contra a hegemonia ocidental.
A Declaração transpira as aspirações históricas do Sul Global por maior protagonismo na governança mundial. O documento representa uma crítica direta ao imperialismo agressivo dos Estados Unidos e sua mania de intervir em outros países para promover seus próprios valores, sem medir consequências.
O BRICS condenou frontalmente os ataques dos Estados Unidos e Israel ao Irã. O documento registra “condenação aos recentes ataques militares contra o Irã e os riscos nucleares associados”, denunciando a escalada bélica promovida pelo eixo Washington-Tel Aviv no Oriente Médio.
Sobre a Palestina, o bloco defendeu “a necessidade de solução de longo prazo para a situação da Palestina”, posicionamento que confronta diretamente o apoio incondicional americano ao genocídio em Gaza e a cumplicidade europeia com os crimes de guerra israelenses.
China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, registraram apoio ao maior protagonismo do Brasil e da Índia no órgão. Esta posição também constitui um tapa na cara da vassalagem vergonhosa da Europa e outros países do Norte Global, que se curvam sistematicamente aos interesses americanos.
Além da carta final dos BRICS, vale ressaltar os discursos contundentes de alguns representantes e chefes de Estado. O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, proferiu um discurso histórico anticolonialista durante o BRICS Business Forum. Ibrahim evocou a Conferência de Bandung de 1955 e declarou que “não estamos aqui para reclamar ou lamentar aqueles que acreditam em ações unilaterais – tarifas, protecionismo. Aqui, levantamos uma voz pelo multilateralismo, pela colaboração”.
O líder malaio foi ainda mais direto ao afirmar que os países do Sul Global devem “falar de uma posição de força – não como países ex-coloniais fracos, mas como nações independentes com uma posição clara”.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, que representou o presidente Masoud Pezeshkian na cúpula, fez declarações firmes sobre a situação no Oriente Médio. Araghchi disse aos líderes que havia defendido que “todos os membros das Nações Unidas condenem fortemente Israel” e que “Israel e os Estados Unidos devem ser responsabilizados pelas violações de direitos”. O chanceler iraniano alertou que as consequências da guerra “não se limitarão” a um país: “Toda a região e além será prejudicada”.
Confronto direto ao imperialismo ocidental
O bloco também condenou “a imposição de medidas coercitivas unilaterais contrárias ao direito internacional”. O BRICS se refere aqui às sanções econômicas, embargos comerciais, bloqueios financeiros e outras punições impostas pelos Estados Unidos e seus aliados. Estas medidas representam a arma preferida de Washington para dobrar países que se recusam a aceitar sua hegemonia.
As críticas se estendem às medidas discriminatórias impostas sob pretexto de preocupações ambientais. O Norte Global usa a agenda climática como nova forma de controle econômico sobre nações em desenvolvimento.
Quebra da hegemonia financeira
O BRICS avançou na discussão sobre uso de moedas locais no comércio entre os países membros. Esta iniciativa visa quebrar o domínio do dólar americano como moeda de reserva mundial.
O grupo iniciou conversas para estabelecer Garantias Multilaterais próprias, criando alternativas ao sistema financeiro controlado pelo Ocidente. Os países defenderam aumento das quotas de nações emergentes no FMI e maior participação no Banco Mundial.
Multipolaridade em ação
A presidência brasileira orientou-se pela reforma da governança global e ampliação da voz dos países do Sul Global. Estes objetivos representam a essência da luta contra a ordem unipolar imposta pelos Estados Unidos após o fim da Guerra Fria.
O BRICS conta agora com novos membros e países parceiros, consolidando um bloco que representa mais da metade da população mundial. Malásia e Bolívia aderiram às declarações temáticas, expandindo a frente anti-imperialista.
O documento final da cúpula teve como lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. Mais de 200 reuniões e 30 ministérios brasileiros participaram da elaboração, demonstrando o comprometimento do país com a construção de uma ordem mundial multipolar.
O Brasil mantém a presidência do BRICS até dezembro de 2025, período crucial para consolidar as iniciativas que desafiam a hegemonia ocidental e promovem os interesses legítimos das nações do Sul Global.