Reunião dos Brics, realizada nesta quinta-feira (17) em Brasília, aprovou uma declaração conjunta reforçando o compromisso com o desenvolvimento agrícola sustentável, a segurança alimentar e o enfrentamento das desigualdades no campo. O encontro reuniu ministros e líderes de área da gricultura dos 11 países membros.
Na avaliação do governo brasileiro, o documento aprovado representa um marco para a agricultura global e traz diretrizes claras para o período de 2025 a 2028, tendo como centro a segurança alimentar, a sustentabilidade e a facilitação do comércio agrícola internacional.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, os países do Brics representam 54,5% da população mundial, concentram um terço das terras agrícolas e mais de um terço dos recursos de água doce do planeta,
Juntos, são responsáveis por 75% da produção agrícola global e abrigam cerca de metade das 550 milhões de propriedades familiares existentes no mundo — muitas delas conduzidas por pequenos produtores.
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Para o ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Fávaro, “esses dados não revelam apenas a força produtiva e econômica dos países do Brics, como também o papel decisivo que exercem na agricultura e na segurança alimentar mundial. Reuniões como esta são um espaço privilegiado para diálogo, cooperação e construção de soluções conjuntas”.
“Todos nós queremos alcançar o Brasil em termos de produção de alimentos. A agricultura é um aspecto fundamental, e discutir esse tema nos Brics é extremamente valioso. Vindo de um continente tão marginalizado e pobre, como a África do Sul, onde a agricultura não é tão desenvolvida, é de grande importância para nós participarmos desse processo”, disse o embaixador da África do Sul, Vusi Mavimbela.
Compromissos
Com relação ao principal compromisso do grupo, a segurança alimentar, os participantes reconheceram a importância da iniciativa de Lula, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, bem como o papel essencial da agricultura para erradicar a fome e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
Entre as ações acordadas estão o fortalecimento dos estoques reguladores de alimentos, o investimento em infraestrutura de armazenamento e o estímulo à adoção de instrumentos de política pública como o apoio a preços mínimos e o monitoramento dos custos de produção — voltados à estabilização do acesso a alimentos essenciais. A medida busca enfrentar a volatilidade dos preços, apontada como um dos principais desafios à segurança alimentar global.
Além disso, a declaração traz também o compromisso de que, em situações excepcionais que afetem algum país do grupo — como falta de alimentos ou aumentos bruscos nos preços—, a cooperação entre os membros possa ajudar em respostas emergenciais, com base na solidariedade entre os países.
Outro ponto central discutido no encontro diz respeito à agricultura familiar. “A agricultura familiar não foi a responsável pelo aumento da temperatura no mundo, porque não é ela a responsável pela emissão dos gases de efeito estufa. Entretanto, é esse o setor que está sofrendo mais com as mudanças climáticas, porque a agricultura familiar depende do clima”, apontou Fernanda Machiaveli, secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.
Por isso, completou, “esses produtores precisam ser incluídos no processo de transição, primeiro para que eles possam fazer a adaptação e segundo porque são eles que vão fazer a mitigação sequestrando o carbono por meio de práticas cada vez mais sustentáveis”.
Cabe destacar ainda, entre os pontos acordados, a concordância com o fato de que os Brics têm potencial para exercer um papel estratégico no aumento sustentável e inclusivo da produtividade agrícola global, ao alinhar suas capacidades industriais às necessidades dos pequenos produtores, tanto dentro do bloco quanto em outras nações do Sul Global.
Para avançar nesse caminho, o documento recomenda a adoção de estratégias de investimento que incentivem parcerias entre empresas e universidades dos países membros, promovendo a produção local de máquinas agrícolas e o intercâmbio voluntário de tecnologias inovadoras, adaptadas às realidades regionais.
Por último, o acordo trata da facilitação do comércio agrícola internacional, com a meta de reduzir barreiras desnecessárias, promover a transparência e facilitar o intercâmbio de produtos agropecuários entre os países membros, além do uso de certificação digital que deverá reduzir a burocracia, mitigar riscos de fraude, diminuir a possibilidade de falsificação e melhorar a rastreabilidade.
Com agências