A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2024 promete ampliar o foco do país na América Latina.
Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly e especialista em política latino-americana, destaca que um novo governo Trump deverá adotar uma abordagem pragmática, priorizando os interesses americanos, com ênfase em políticas de imigração e no combate ao tráfico de drogas.
Trump deve marcar um período de forte interesse na região, algo não visto desde a administração de Bill Clinton (1993-2000), que focou no livre-comércio. No entanto, a estratégia de Trump será mais voltada para interesses específicos dos EUA, como o endurecimento das políticas anti-imigração.
A abordagem poderá beneficiar países ideologicamente alinhados com Trump, como a Argentina sob Javier Milei, que pode ter acesso a cadeias de suprimentos e financiamentos, enquanto outros, como o Brasil, liderado por Lula, podem enfrentar retaliações econômicas, como sanções ou tarifas.
Winter prevê que Trump provavelmente lançará críticas severas contra o governo de Lula, com ameaças de sanções, especialmente considerando o apoio dado pela família Bolsonaro durante a campanha de Trump. “Há uma contagem regressiva para o primeiro tuíte de Trump criticando Lula e ameaçando sanções, a menos que Jair Bolsonaro seja autorizado a se candidatar novamente em 2026”, afirmou Winter.
A relação entre os Estados Unidos e o Brasil, sob a administração de Trump, será marcada por desafios e incertezas. Embora o Brasil não seja uma prioridade para os EUA em questões como imigração e tráfico de drogas, Trump pode vê-lo como um alvo fácil para sua retórica agressiva.
O comércio com o Brasil, que atingiu US$ 120,7 bilhões em 2023, representa uma pequena fração do comércio total dos EUA, o que torna as retaliações contra o país menos prejudiciais para os interesses americanos.
Winter também aponta que, se Trump decidir focar suas críticas no Brasil, o país poderá ser penalizado economicamente, com tarifas e outras punições. Além disso, o Brasil pode ser visto como uma peça chave no jogo geopolítico dos EUA, especialmente em relação à Venezuela, com a Casa Branca buscando utilizar o Brasil como um intermediário para dialogar com Caracas.
Líderes latino-americanos como Javier Milei, na Argentina, e Nayib Bukele, em El Salvador, devem ser beneficiados politicamente com o apoio de Trump, mas a pergunta que fica é se haverá consequências econômicas tangíveis para esses países. Winter acredita que, com a ascensão de líderes conservadores na região, Trump se tornará uma figura de influência crescente, especialmente entre aqueles que buscam apoio internacional para suas agendas internas.
Além disso, a relação entre os EUA e países como o México, Costa Rica e República Dominicana, que já estão se beneficiando de políticas de nearshoring, pode se intensificar, uma vez que Trump busca reduzir a dependência dos EUA em relação à China, incentivando a produção na América Latina.
A política dos EUA em relação a regimes como o de Cuba e Venezuela também pode sofrer mudanças significativas. Winter sugere que o governo Trump pode adotar táticas mais duras, mas sem retornar à estratégia da “máxima pressão”, que incluía embargos severos e tentativas de desestabilizar os regimes de Nicolás Maduro e Miguel Díaz-Canel.
A relação dos EUA com a Venezuela, em particular, é vista com cautela, considerando a posição crítica de Lula em relação ao regime de Maduro. A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos trará uma reorientação pragmática das relações entre os dois países, com foco na segurança, imigração e políticas econômicas.
O Brasil, em particular, pode enfrentar novos desafios, com uma possível retórica agressiva de Trump, enquanto outros países da América Latina podem ser favorecidos pela aproximação com o ex-presidente. O impacto dessa nova fase das relações EUA-América Latina será decisivo para os próximos anos, com possíveis reconfigurações políticas e econômicas na região. (Com informações do UOL)
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