Os 111 brasileiros deportados dos Estados Unidos que chegaram na tarde desta sexta-feira (7) ao Aeroporto Salgado Filho, em Fortaleza, viajaram algemados e sem acesso adequado a alimentação, conforme relataram autoridades locais. De acordo com a secretária dos Direitos Humanos do Ceará, Socorro França, os passageiros foram transportados com algemas nas mãos e correntes nos pés, que foram removidas apenas após o pouso no Brasil.
“Pelo relato que foi dito, através de todos eles que estavam nesse voo, é de que sofreram muito. Eles, que estavam presos, quase sem alimentos, e aqui o Governo do Estado oportunizou que, assim que eles descessem sem algemas, sem corrente nos pés, eles recebessem alimento, água, kit de higiene, um tratamento humanizado”, declarou Socorro França em coletiva de imprensa.
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A defensoria pública e o governo estadual manifestaram preocupação com as condições do transporte. O defensor público federal Edilson Santana afirmou que “vê com preocupação” o uso de algemas e a situação dos passageiros, embora tenha destacado que as crianças não foram submetidas a esse tratamento. “A Defensoria Pública está atenta a eventuais violações de direitos humanos que possam ter ocorrido e estamos à disposição, individualmente, de cada pessoa que chegou, mas também através da nossa atuação coletiva para que possamos prestar assistência jurídica”, disse Santana.
A secretária da Diversidade do Ceará, Mitchelle Benevides Meira, reforçou as dificuldades enfrentadas pelos deportados durante o trajeto, informando que alguns deles ficaram até 12 horas sem se alimentar. “Teve pessoas que ficaram 12 horas sem comer, mas foram todos acolhidos, alimentados e passaram por tratamento hospitalar”, afirmou.
O voo até o Brasil
De acordo com um tratado entre Brasil e Estados Unidos, os imigrantes podem ser transportados algemados, com possibilidade de imobilização das pernas por correntes, mas devem ser liberados antes do desembarque em território brasileiro. No Brasil, cidadãos deportados não são tratados como criminosos e não podem ser submetidos a tratamento degradante.
O avião que pousou em Fortaleza partiu de Alexandria, no estado da Louisiana, nos EUA, com uma escala técnica em Porto Rico antes de seguir para o Brasil. Esta foi a segunda aeronave enviada pelos EUA com deportados desde o início do novo governo de Donald Trump. O primeiro voo ocorreu em 10 de janeiro, nos últimos dias do governo de Joe Biden.
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Parte dos brasileiros repatriados seguiu para Belo Horizonte (MG) em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), já que voos com deportados dos EUA costumavam pousar no Aeroporto de Confins. A decisão de pousar em Fortaleza foi tomada para reduzir o tempo de voo com os passageiros algemados, após problemas ocorridos em janeiro, quando deportados desembarcaram algemados durante uma conexão em Manaus.
Autoridades estaduais garantiram apoio às famílias e assistência para o retorno dos repatriados às suas cidades de origem.
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com informações de agências