
Organizações representativas da comunidade brasileira nos Estados Unidos enviaram um documento alarmante ao governo Lula (PT) denunciando graves violações de direitos humanos contra imigrantes. O apelo, subscrito por diversas entidades como o Brazilian Worker Center e o Florida Immigrant Coalition, chega em um momento de crescente tensão para os cerca de 2 milhões de brasileiros que vivem no país, dos quais aproximadamente 57% enfrentam situação migratória vulnerável.
As denúncias incluem relatos perturbadores de prisões arbitrárias realizadas por “agentes mascarados” sem mandado judicial, com períodos de detenção que se estendem por até cinco dias antes do registro formal no sistema de imigração.
Situações classificadas como “tortura branca” ganharam destaque nos relatos, com descrições de pessoas sendo transportadas em vans por até 12 horas algemadas, sem acesso a informações sobre seu destino e com restrições severas a necessidades básicas como alimentação e água.
Casos envolvendo crianças chamaram particular atenção, com diversos registros de menores sendo algemados durante operações de imigração.
“Em muitos lares, pessoas têm deixado de sair de casa, temendo novas ações”, descreve o documento obtido por Jamil Chade do Uol. O manifesto também menciona táticas de intimidação como o estacionamento ostensivo de viaturas próximas a estabelecimentos frequentados pela comunidade brasileira.

A crise ganhou contornos mais dramáticos com o recente caso do estudante Marcelo Gomes, de 18 anos, detido por engano, no lugar de seu pai, durante seis dias em condições que ele descreveu como desumanas.
“Não se via a luz do dia”, relatou o jovem após sua libertação, detalhando como os detidos precisavam se aproximar de frestas nas portas para respirar ar fresco e como dormiam diretamente sobre pisos de cimento, cobertos apenas por finas mantas aluminizadas.
Diante deste cenário, as organizações comunitárias apelam por uma resposta coordenada e urgente do governo brasileiro, sugerindo desde intervenções diplomáticas baseadas em convenções internacionais até a ampliação imediata dos serviços consulares.
“Atue junto ao governo dos EUA pela aplicação da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984) e outros tratados humanitários internacionais ratificados por ambos os países (…) Amplie a capacidade consular, especialmente para emissão de documentos essenciais como certidões de nascimento e passaportes, e ofereça assistência emergencial a famílias que desejam retornar ao Brasil”, apelam os brasileiros.
O Itamaraty já anunciou medidas como mutirões para emissão de documentos, mas a comunidade avalia que essas iniciativas ainda são insuficientes para enfrentar a dimensão da crise.