Imagem: The Boston Globe
Frilei Brás, mineiro que vivia há 19 anos nos Estados Unidos, retornou ao Brasil no mês passado após ser pressionado pelas autoridades migratórias americanas a deixar o país. Em entrevista ao colunista Jamil Chade, do UOL, ele contou que se apresentou voluntariamente à imigração, como fazia anualmente, mas foi surpreendido com uma tornozeleira eletrônica e uma ordem para deixar o território norte-americano em 15 dias. A saída, segundo ele, foi forçada: “Eu não decidi sair. Eu fui obrigado. Não tinha escolha”.
Residente na região de Boston, Brás era uma figura respeitada pela comunidade brasileira. Pai de seis filhos americanos e marido de uma mulher com problemas de saúde, ele mantinha empresa, escolinha de futebol, pagava impostos e era conhecido pelo programa que apresentava em uma rádio local. Detido pela imigração em 2018, respondia ao processo em liberdade e não representava prioridade para deportação, até a mudança de diretriz durante o governo de Donald Trump.
Em maio deste ano, ao comparecer novamente à imigração, foi informado de que poderia ser preso de imediato. Após negociações, obteve um curto prazo para deixar o país. “Fui fazer algo correto, como sempre fiz. Mesmo assim, colocaram corrente e algemas sobre a mesa, e deixaram claro que o objetivo era me intimidar”, disse ao jornalista.
Durante a entrevista, Brás revelou que agentes migratórios admitiram estar perseguindo os mais vulneráveis para atingir metas de deportação. “Você é só um número”, teria ouvido. Recusou a ajuda financeira oferecida pelo governo — um cheque de mil dólares — por não acreditar que o valor seria realmente pago.
Hoje, Brás vive em Central de Minas (MG), próximo a Governador Valadares, enquanto a família segue nos Estados Unidos, sustentada por amigos. “Foi numa escala no Panamá que tive uma crise de choro. Não sei quando vou ver minha família de novo”, lamentou. Ele afirma que muitos imigrantes brasileiros estão se autodeportando por medo, em meio ao aumento da repressão.
A autodeportação de Frilei Brás faz parte de uma estratégia do governo norte-americano, segundo o colunista Jamil Chade, que busca pressionar imigrantes indocumentados a deixarem o país voluntariamente. O caso evidencia o impacto humano de políticas migratórias rigorosas, mesmo contra indivíduos com histórico familiar, social e trabalhista estabelecido nos EUA.
