Valdileia Silva, finalista olímpica no salto em altura. Foto: reprodução

O sonho de Israel Silva sempre foi transformar o assentamento Pontal do Tigre, no noroeste do Paraná, em um lugar de oportunidades e formações. No acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), onde era assentado, ele usou sua criatividade para improvisar com os recursos disponíveis. Com a palha de arroz de uma fábrica vizinha, encheu sacos de milho, criando colchões improvisados para o treino de salto em altura, oferecendo um local seguro para as crianças praticarem.

Essa inovação foi essencial para a trajetória de sua filha, Valdileia Silva, que começou a treinar no assentamento com os colchões de palha de arroz. Israel acreditava que o assentamento poderia ser mais do que apenas um local de produção de algodão e criação de gado; ele queria que fosse um espaço de aprendizado e formação de atletas. E ele conseguiu.

Na última sexta-feira, dia 2, Valdileia tornou-se finalista olímpica nos Jogos de Olímpicos de Paris, um feito que encheu de orgulho o assentamento Pontal do Tigre e a cidade de Querência do Norte, no noroeste do Paraná. Essa conquista, no entanto, teve um sabor agridoce para Valdileia. Israel faleceu poucos dias antes, vítima de um infarto fulminante.

“Eu comecei a chorar, não perguntei à minha irmã como tinha acontecido. Parei de chorar, me recompus e voltei a treinar. O Nei [Neilton Moura, que a treina em Paris] nem percebeu que eu estava diferente. Só quando minha outra irmã me ligou para perguntar se eu estava sabendo é que o Nei me viu chorando e perguntou o que tinha acontecido”, contou Valdileia ao repórter Demétrio Vecchioli, do UOL.

Valdileia soube da triste notícia durante um dos primeiros treinos em Paris, mas decidiu seguir em frente, motivada pelas palavras de sua mãe: “Quero que você fique para competir, que era o que seu pai queria. Ele estava feliz e orgulhoso de você”.

A jornada de Valdileia até a final olímpica é uma história de resiliência e determinação. Após mais de 20 anos de carreira e 35 anos de vida, ela realizou o sonho de competir em uma edição das Olimpíadas.

Mesmo diante da perda de seu maior incentivador, a atleta encontrou forças para competir e honrar a memória de seu pai. Seu retorno ao Brasil, inicialmente planejado para uma celebração familiar, agora carrega um significado ainda mais profundo. Valdileia viu seu pai pela última vez em uma chamada de vídeo, enquanto ele estava no caixão. Apesar da dor, ela mostrou coragem e seguiu em frente, tornando-se uma finalista olímpica.

A história de Valdileia Silva é um testemunho de como a força de vontade e o apoio familiar podem transformar sonhos em realidade, mesmo diante das adversidades. Sua trajetória inspira não apenas a comunidade do assentamento, mas também todos os brasileiros, que torcerão para ela na finalíssima do salto em altura.

Valdileia em assentamento do MST. Foto: reprodução
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Última Atualização: 03/08/2024