
Aline Pereira Ghammachi, uma freira brasileira de 33 anos, foi deposta do cargo de madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia, na Itália, após ser denunciada em uma carta anônima, que a acusava de manipulação e maus-tratos às irmãs, conforme informações da Folha de S.Paulo.
A decisão, que ocorreu logo após a morte do papa Francisco e a eleição do papa Leão XIV, gerou a saída de mais 11 freiras do mosteiro. Agora, Aline busca justiça, alegando que sua remoção está ligada a preconceitos sobre sua aparência e origem.
“Disseram que eu destratava e manipulava as irmãs”, afirmou Aline, que foi denunciada em 2023 por uma carta enviada ao papa Francisco. Após uma auditoria e uma nova investigação, ela foi removida do cargo sem uma explicação formal ou julgamento.
“Bonita demais”
Aline acredita que sua expulsão foi influenciada por “pré-conceitos sobre ser mulher, jovem e brasileira”. Ela também afirmou que o abade-chefe, frei Mauro Giuseppe Lepori, fez comentários sexistas, dizendo que ela era “bonita demais para ser abadessa, ou mesmo para ser freira”, e a expôs ao ridículo.
A decisão foi tomada no dia da morte de Francisco, quando uma nova madre-abadessa de 81 anos foi enviada para assumir o cargo. Inicialmente, Aline se recusou a sair, já que não foi informada sobre as razões de sua expulsão e não houve uma denúncia formal.
Mas, após sua saída, 11 freiras abandonaram o mosteiro, algumas fugindo sem seus documentos pessoais. Uma das ex-freiras, Maria Paola Dal Zotto, defendeu Aline, dizendo: “Foi inaugurado um tratamento medieval, um clima de calúnias e acusações infundadas”.

Aline, agora afastada, entrou com um recurso no Vaticano, afirmando que foi injustiçada e que sua expulsão está ligada a questões sexistas e machistas. “Porque uma pessoa jovem e bonita deve ser burra? Não pode ser inteligente, tem que ficar calada”, afirmou.
“Eu não tive direito de defesa. Fui colocada para fora do mosteiro, sem motivação. Estamos até recorrendo no Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica. Por que aconteceu? Porque eu sou mulher, porque eu sou jovem e porque, principalmente nesse contexto, sou brasileira”, disse a freira.
Apesar de tudo, Aline não se calou. Ela e outras freiras que fugiram do mosteiro foram acolhidas em uma villa, onde continuarão seu trabalho social. Mesmo que as 11 freiras em fuga sigam sua obra, elas terão de se afastar do cargo.
“Infelizmente, vai haver uma ruptura. Nós vamos ter que pedir a dispensa de votos, que é uma obrigação canônica, mas queremos continuar nossa vida de trabalho e de oração. Nós amamos a Igreja. Vamos começar do zero. Mas com uma visão de futuro, de talvez começar de novo, em outra congregação”, disse ela.
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