Em reuniões com empresários nesta terça (15), o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin, afirmou que o Brasil buscará um acordo com os Estados Unidos até o último momento para evitar a tarifa de 50% sobre os produtos exportados — a data para entrar em vigor é 1 de agosto. Nesta quarta (16), Alckmin e o chanceler Mauro Vieira assinaram uma carta endereçada ao governo dos Estados Unidos cobrando explicações e abertura para o diálogo.
O gesto é apoiado por empresários da indústria e do agronegócio. No encontro com o vice-presidente, os representantes dos setores que serão os mais atingidos pela tarifa imposta por Donald Trump manifestaram apoio e confiança nas negociações por parte do governo brasileiro e se colocaram contra quaisquer retaliações.
À imprensa, Alckmin reforçou que ouviu os setores mais impactados (aço, alumínio, aviação, têxtil, papel, celulose e os relacionados ao agro) e destacou a importância desse alinhamento da postura brasileira, seguida à risca por seu ministério e pela diplomacia.
Leia mais: AGU afirma ao NYT que nenhum país pode ditar rumos da justiça brasileira
Ele também ressaltou que os exportadores brasileiros têm procurado debater com seus compradores nos EUA como forma de encontrarem uma solução conjunta, uma vez que interromper o fluxo comercial já estabelecido em determinadas cadeias produtivas pode colocar em risco os negócios dos norte-americanos.
As Câmaras de Comércio dos EUA e do Brasil também já se posicionaram contrariamente às tarifas. Conforme lembrou Alckmin, além do histórico fluxo comercial norte-americano superavitário na relação com os brasileiros, de janeiro a junho de 2025 as exportações entre os países estavam em franco crescimento, que agora poderá ser interrompido pela autoritária decisão de Trump
“De janeiro a junho deste ano, as exportações do Brasil para os Estados Unidos aumentaram 4,37% e dos Estados Unidos para o Brasil aumentaram 11,48%. Momento em que é recorde a exportação dos Estados Unidos para o Brasil, quase três vezes mais do que a nossa exportação, estaremos unidos para reverter essa decisão”, diz o vice-presidente.
Como já noticiou o Portal Vermelho, esta relação benéfica — sendo muito mais vantajosa aos EUA — é comprovada em números recentes. A corrente de comércio entre Brasil e Estados Unidos alcançou o recorde de US$ 20 bilhões para os três primeiros meses do ano, de acordo com a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil). Além disso, em 2024 o Brasil registrou recorde nas exportações aos EUA ao ultrapassar pela primeira vez a barreira dos US$ 40 bilhões. Também no ano passado foi registrado o segundo maior valor da corrente comercial entre os países, US$ 80,9 bilhões — o que resultou em superávit de cerca de US$ 300 milhões para os EUA.
Apoio do agro
Os encontros de Alckmin também se estenderam aos representantes do agronegócio e com o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. A preocupação principal é com a perecibilidade de muitos produtos, sendo necessária uma solução rápida.
Fávaro lembra que o Brasil está aberto ao diálogo, ao mesmo tempo que não renuncia à sua soberania. O ministro indica que o setor pecuário previa dobrar as vendas aos norte-americanos.
Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), sentencia que a taxa de 50% torna inviável a exportação aos EUA. Antes mesmo da entrada em vigor da nova tarifa, frigoríficos já suspendem a produção, sendo que muitos produtos que já estão a caminho têm o futuro incerto.
Leia mais: Inflação nos EUA dispara com tarifaço de Trump
Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), agradeceu a postura do governo brasileiro e defendeu negociações específicas para isentar alimentos, como a manga, que já têm todo o planejamento de contêineres e transporte contratado há mais de seis meses. No seu entendimento, os alimentos devem ficar de fora do ‘tarifaço’.
Outros produtos como laranja e café também estão no centro do debate. Estima-se que 70% do suco de laranja que os EUA importam seja do Brasil. Já o café brasileiro representa 33%.
Ainda que parte da produção de todos os alimentos possa ser revertida ao mercado interno, uma iniciativa nesse sentido deve ser feita com cuidado para não colapsar os preços dos produtos e sua indústria. Da mesma maneira, buscar um outro país para destinar os produtos não é tarefa simples, pois envolve logística e transporte, como exemplificado no caso da manga, planejado por muitos meses. Assim, o entendimento geral é por um acordo que coloque fim a este impasse até 31 de julho, mas para isso Trump precisa responder as indagações do Brasil.
*Com informações Agência Brasil