Nos últimos dez anos, o Brasil registrou uma queda significativa nos partos de adolescentes, com uma redução de 50% no número de nascimentos entre mulheres de 10 a 19 anos.
Dados preliminares do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinac) apontam que, no primeiro semestre de 2024, o número de partos nesta faixa etária foi de 141 mil, uma queda expressiva em comparação com os 286 mil registrados no mesmo período de 2014.
Essa diminuição contínua indica que, pela primeira vez, o país pode fechar 2024 com uma taxa de fecundidade adolescente abaixo ou muito próxima da média mundial.
A ginecologista Ana Luiza Silva, professora de obstetrícia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), atribui essa redução a diversos fatores, como o aumento no acesso das adolescentes aos serviços de saúde e a maior escolaridade.
“Quando as adolescentes estudam, conseguem enxergar outras perspectivas de vida e buscam crescer profissionalmente, sem que a vida se resuma a ser mãe”, afirma. Ela também observa um maior engajamento das famílias no processo de conscientização sobre contracepção, com mães levando suas filhas mais jovens para orientações sobre prevenção de gravidez.
A mudança na mentalidade das jovens também é observada pela coordenadora do programa do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Beatriz Costa, que destaca o aumento da autoestima, mais diálogo sobre sexualidade e a ampliação do acesso a métodos anticoncepcionais gratuitos.
“Além disso, os profissionais de saúde passaram a ter uma abordagem mais empática, discutindo a equidade e o papel do homem na prevenção da gravidez adolescente”, complementa.
Embora a redução na taxa de gravidez tenha sido significativa, a realidade ainda é alarmante para meninas entre 10 e 14 anos. Em 2023, 13.934 meninas dessa faixa etária deram à luz, uma diminuição de 50% em relação aos 28 mil partos registrados em 2014.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a gravidez nessa faixa etária é frequentemente associada a estupros, um grave problema de saúde pública no Brasil.
Durante a pandemia de COVID-19, muitos temiam que a gravidez na adolescência aumentasse devido à falta de acesso aos métodos contraceptivos. No entanto, no Brasil, a oferta de serviços de saúde não foi interrompida e, de fato, houve uma redução no número de gravidezes adolescentes.
“O SUS garantiu o acesso à contracepção, e muitas adolescentes também não saíram de casa, o que ajudou a reduzir as chances de gravidez”, explica a ginecologista Ana Luiza Silva. Embora os números mostrem uma redução considerável, o Brasil ainda enfrenta desafios. A taxa de fecundidade mundial é de 1,05, bem abaixo da taxa brasileira de 1,9.
“A cada meia hora, uma menina de 10 a 14 anos se torna mãe no Brasil. A conexão com a educação e a cultura é essencial para mudar esse cenário”, afirma Beatriz Costa. Ela também aponta que meninas com maior participação em atividades culturais, esportivas ou educacionais têm mais chances de evitar a gravidez precoce.
Se a tendência de redução continuar, o Brasil pode se aproximar cada vez mais da média global de fecundidade adolescente. As políticas públicas de saúde, educação e apoio à mulher, assim como as mudanças nas atitudes culturais, têm sido cruciais para essa mudança.
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