O Brasil perdeu espaço no debate global sobre equidade de gênero na alta liderança. Segundo o relatório Women in Business 2025, da Grant Thornton International (GTIL), o número de mulheres em cargos de liderança sênior caiu 5,3% no país em 2025. O recuo contrasta com o avanço, ainda que lento, da média global, que subiu 0,5% em relação ao ano anterior.
No mundo, 34% das posições executivas mais altas já são ocupadas por mulheres, e a projeção é de que esse número alcance 50% até 2051. No Brasil, no entanto, os dados apontam para uma tendência inversa, agravada por resistências culturais e institucionais.
Um estudo paralelo da Women in Tech mostra que 72% das mulheres ainda enfrentam preconceito de gênero no ambiente de trabalho, o que compromete diretamente suas chances de promoção. Além disso, 58% das entrevistadas afirmaram ter acesso limitado a redes de networking, enquanto 56% já vivenciaram situações de discriminação ou assédio com impacto negativo na carreira. O efeito acumulado dessas barreiras aparece em outro dado preocupante: 85% relatam sofrer da chamada síndrome do impostor.
A gestão que enxerga mais longe
Essa realidade, no entanto, convive com avanços significativos em setores mais atentos à pluralidade. Para Thainá Pitta, executiva de atendimento e relações públicas, a presença de mulheres em cargos estratégicos é um diferencial competitivo — especialmente em áreas como cultura, entretenimento e comunicação.
Baiana, negra e atuante em ativações culturais de grandes marcas e eventos como Energy Summit, The Town e Rio2C, Thainá defende que a diversidade é o que permite criar conexões reais com públicos distintos.
“A diversidade transforma o modo como pensamos, executamos e nos comunicamos, enquanto marcas. O olhar feminino observa nuances, antecipa demandas e corrige rotas antes mesmo delas virarem problema. Isso torna a presença de mulheres em cargos sênior um pilar estratégico”, afirma.
Segundo a especialista, o protagonismo feminino é parte de uma transformação mais ampla nos bastidores da cultura e da economia. Ela cita como referências nomes como Amanda Carneiro (MASP), Luana Génot (ID_BR), Carol Barreto (moda e ativismo) e Misty Copeland (American Ballet Theatre). “Essas mulheres mostram que a gestão homogênea não dá conta de responder aos desafios reais da sociedade”, avalia.
Política estruturada, não discurso pontual
Thainá também destaca que mudanças efetivas só serão possíveis com políticas estruturadas. “Não podemos seguir na contramão do mundo. Diversidade precisa estar na governança, com metas e responsabilidade real sobre os avanços”, afirma.
Ela reforça que, em ambientes diversos, o impacto é direto: decisões mais equilibradas, entregas com mais sentido e organizações mais próximas de seus públicos. “A escuta qualificada que nós mulheres temos transforma uma entrega técnica em uma experiência com propósito. Isso é gestão com visão ampliada.”
Diante da estagnação brasileira nos indicadores globais, o alerta é claro: investir em diversidade não é uma pauta acessória, mas um caminho para garantir inovação, resultado e conexão verdadeira com o mundo lá fora.
Last Update: 06/07/2025