O governo brasileiro reconheceu oficialmente a neutralidade do Canal do Panamá, ou seja, o compromisso de manter a via aberta a navios de todos os países, sem favoritismo, e aproveitou a ocasião para anunciar novas parcerias com o país centro-americano.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (28) no Palácio do Planalto, durante a visita do presidente panamenho José Raúl Mulino ao Brasil. Ao lado dele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu o tom político do gesto. “O Brasil apoia integralmente a soberania do Panamá sobre o Canal, conquistada após décadas de luta. Há mais de 25 anos, o país administra o corredor marítimo com eficiência e respeito à neutralidade, garantindo trânsito seguro a navios de todas as origens.”
Lula também criticou pressões externas na região. “Tentativas de restaurar antigas hegemonias colocam em xeque a liberdade e a autodeterminação de nossos povos. Ameaças de ingerência pressionam instituições democráticas e comprometem a construção de um continente integrado, desenvolvido e autônomo. O comércio internacional é utilizado como instrumento de coerção e chantagem.”
Do lado panamenho, Mulino destacou o simbolismo histórico da decisão. “Não há duvida de que a questão do canal nos afeta muito porque é uma luta de um século, conquistada por negociação e conseguimos alcançar a plena soberania.” Sobre a pauta ambiental, afirmou: “Precisamos de água, de florestas e lutar todos os dias contra a mudança do clima.”
Na prática, os dois governos assinaram memorandos para cooperação em portos e aeroportos (com a Autoridade do Canal do Panamá), com troca de informações, estudo de rotas e busca de corredores mais sustentáveis; e em agricultura e pecuária (capacitação técnica, sanidade e produção sustentável). Na ocasião, a Embraer anunciou a venda de quatro aeronaves A-29 Super Tucano ao Serviço Nacional Aeronaval do Panamá. Além disso, a Fiocruz apoiará o país a ampliar a produção de vacinas e estruturar um polo farmacêutico regional.
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A agenda climática também entrou no pacote. Lula convidou o Panamá a integrar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que será lançado na COP30, em Belém. O presidente brasileiro lembrou que, mesmo sendo um dos poucos países que absorvem mais gases de efeito estufa do que emitem, o Panamá já sente os impactos do aquecimento global. “O deslocamento do povo indígena Guna de seu arquipélago ancestral é um exemplo concreto da injustiça climática”, disse o presidente. Mulino confirmou presença na COP30.
A visita ocorre em contexto de reforço econômico bilateral. Primeiro país da América Central a associar-se ao Mercosul, o Panamá tem relevância logística que excede sua vizinhança, pela posição estratégica e infraestrutura aeroportuária. Em 2024, o Brasil foi o 15º maior usuário do Canal do Panamá e o comércio bilateral somou US$ 934,1 milhões, fazendo do Panamá o maior parceiro comercial brasileiro na América Central. Na esteira do encontro, os dois governos buscam avançar em acordos de comércio e investimento para ampliar esses fluxos.
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com informações do Governo Federal