Wagner Gomes
O mercado financeiro internacional finalmente redescobriu o Brasil — não como promessa, mas como pechincha. Em um cenário global de aversão ao risco e busca por ativos descontados, empresas brasileiras listadas em bolsa passaram a figurar no radar de investidores estrangeiros não por seus fundamentos excepcionais, mas pelo preço de banana a que foram reduzidas. As empresas brasileiras listadas em bolsa vivem uma valorização repentina — não nos preços, mas no interesse externo. A razão? Estão baratas. Baratas demais. E, quando ativos estratégicos passam a ser negociados a múltiplos deprimidos, o que atrai não é confiança no país, mas apetite por barganhas. O capital estrangeiro, pragmático por definição, enxerga o Brasil como uma geografia de ativos descontados em dólar: estatais com potencial monopolista, bancos com “market share”consolidado, empresas de energia e infraestrutura negociando abaixo do valor patrimonial. Parte da vida, num mercado por definição especulativo? Em termos. A depreciação do real, o prêmio de risco elevado e a paralisia política interna criaram a tempestade perfeita para um processo silencioso de aquisição de riqueza nacional a preço de ocasião. A liquidação não é apenas de ativos — é de percepção. Enquanto o investidor local hesita, acuado por incertezas fiscais e por uma política monetária desconectada da realidade produtiva, fundos globais avançam. Compram participação, influência e futuro, embalados por uma narrativa que vê na instabilidade brasileira uma oportunidade cíclica. Às vésperas de mais uma transição presidencial — que pode ou não renovar a aposta em reformas estruturais —, o Brasil volta ao radar, mas como commodity política. O mercado precifica menos o governo que sai e mais o risco do que entra. E, nessa indefinição, ativos continuam sendo vendidos abaixo do seu valor estratégico. Já o capital político, preso ao calendário eleitoral e aos dilemas fiscais permanentes, continua improdutivo — e muitas vezes conivente. Enquanto o investidor local hesita, fundos globais avançam, embalados por uma narrativa que vê na instabilidade brasileira — e no caos lá fora — uma oportunidade cíclica. O país se torna, assim, não uma promessa de crescimento, mas uma prateleira de liquidações: quem chega primeiro leva mais — inclusive o controle.
Wagner Gomes – Articulista