Missão de Alckmin fecha acordos em agropecuária, biocombustíveis e investimentos; encontro ocorre em meio a tarifaço de Trump
O governo brasileiro deu mais um passo na estratégia de abertura de novos mercados internacionais. Em missão de dois dias no México, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, conduziu negociações que resultaram em acordos nos setores agropecuário, de biocombustíveis, de investimentos e de cooperação tecnológica. A iniciativa é parte do esforço do presidente Lula para reposicionar o Brasil no cenário global e reduzir a dependência de mercados dominados pelo unilateralismo comercial de Donald Trump.
Fórum empresarial e primeiros acordos
A agenda começou em reuniões com empresários de ambos os países, organizadas pela ApexBrasil, em parceria com o MDIC e o Itamaraty. O encontro buscou identificar novas oportunidades em cadeias produtivas estratégicas.
Entre os acordos firmados, destaca-se o de agricultura e pecuária, que prevê medidas de segurança alimentar, apoio a pequenos produtores e incentivo à pesquisa em bioinsumos e biotecnologia. Outro fortalece a cooperação em biocombustíveis, aproveitando o conhecimento brasileiro em etanol e biodiesel. Também foi assinado um documento de entendimento para ampliar a competitividade e estimular investimentos conjuntos.
Segundo Alckmin, “a tarefa é a gente aproximar ainda mais essas duas maiores democracias da América Latina e maiores economias da América Latina. Investimentos recíprocos, complementariedade econômica, comércio exterior, turismo, visto eletrônico, aproximar duas grandes nações para a gente ter mais comércio, mais emprego, mais investimentos e mais oportunidades”.
Comércio bilateral em expansão
Em 2024, o comércio entre Brasil e México atingiu US$ 13,6 bilhões, consolidando o México como o segundo maior destino das exportações brasileiras na América Latina, atrás apenas da Argentina, e o sétimo globalmente. Entre os produtos mais comercializados estão veículos de passeio, carnes bovina e de frango, soja, café e ovos. Pelo lado mexicano, o Brasil adquiriu principalmente peças e componentes automotivos, eletrodomésticos e veículos de carga, totalizando US$ 5,8 bilhões no período.
Embora os resultados sejam positivos, os dois países ainda enfrentam desafios externos. As tarifas aplicadas pelos Estados Unidos, de até 50% sobre produtos brasileiros e de 25% a 50% sobre mercadorias mexicanas, têm criado barreiras para setores como café, carne, frutas, têxteis, aço e alumínio. A imposição dessas medidas reforça a necessidade de estreitar a cooperação bilateral, tornando a aproximação entre Brasil e México uma prioridade estratégica.
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Integração e novos acordos
O ponto alto da visita ocorreu nesta quinta-feira (28), no Palácio Nacional da Cidade do México, onde Alckmin foi recebido pela presidente Claudia Sheinbaum. Durante o encontro, ambos defenderam maior cooperação entre as duas nações.
Alckmin ressaltou: “Não queremos briga com ninguém. Queremos fortalecer os laços com o México e trabalharmos juntos”. Sheinbaum destacou a importância da relação bilateral: “Existem muitas possibilidades de complementaridade econômica com o Brasil. Podemos avançar em áreas como a indústria farmacêutica e a fabricação de automóveis”.
Além dos acordos em agro, biocombustíveis e investimentos, Brasil e México assinaram entendimentos inéditos na área da saúde. A Fiocruz e o governo mexicano firmaram parceria para o desenvolvimento de vacinas com tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), enquanto a Anvisa e a Cofepris assinaram um memorando para modernizar processos regulatórios e agilizar a aprovação de medicamentos e dispositivos médicos.
“Unir a excelência científica do Brasil com a capacidade do México em uma tecnologia de ponta como o mRNA significa mais saúde e autonomia para as duas maiores democracias e economia da América Latina”, disse Alckmin.
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Brasil como ator central no comércio multilateral
A missão também tratou de temas como transição energética, turismo e facilitação de vistos. O vice-presidente convidou ainda as autoridades mexicanas para a COP30, que será realizada em Belém, reforçando a agenda ambiental conjunta.
O governo Lula aposta que a aproximação não só amplia mercados, mas fortalece a integração regional diante de um cenário de disputas comerciais globais. Para Brasília, a missão ao México representa um passo estratégico para consolidar o Brasil como ator central na construção de um comércio internacional equilibrado e multilateral.
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