“A ASEAN deve permanecer central na arquitetura regional em evolução, promovendo o multilateralismo e trabalhando em conjunto para enfrentar os desafios globais. Não podemos permitir que ações unilaterais e retaliações comerciais fragmentem ainda mais a economia global.”
— Declaração dos Líderes da ASEAN sobre Multilateralismo, Maio de 2025
Em um mundo cada vez mais polarizado entre as potências tradicionais do Norte Global, o Brasil consolida sua posição como protagonista na construção de uma nova arquitetura geopolítica mundial. Enquanto Donald Trump declara uma verdadeira guerra comercial global com tarifas universais mínimas de 10% sobre todas as importações americanas e sanções que atingem dezenas de países, o Brasil trilha um caminho diferente: o fortalecimento das relações Sul-Sul como alternativa à hegemonia ocidental.
Os dados mais recentes do comércio exterior brasileiro revelam uma transformação silenciosa, mas profundamente estratégica: nos últimos 12 meses (junho de 2024 a maio de 2025), o Brasil registrou uma corrente de comércio de US$ 36,0 bilhões com a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), consolidando um eixo que desafia a lógica protecionista e sancionatória das potências tradicionais.
ASEAN: O gigante asiático que desafia a hegemonia ocidental
A ASEAN, fundada em 1967 em plena Guerra Fria como uma resposta dos países do Sudeste Asiático às pressões geopolíticas da época, hoje representa uma das mais dinâmicas regiões econômicas do planeta. Composta por dez países – Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Vietnã – o bloco abriga mais de 650 milhões de habitantes e um PIB conjunto que supera os US$ 3,7 trilhões, posicionando-se como a quinta maior economia mundial.
Como enfatizou o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, atual presidente da ASEAN: “A centralidade da ASEAN não é apenas uma estratégia regional, mas uma necessidade global para equilibrar as forças que buscam fragmentar o mundo em blocos antagônicos.” Esta visão reflete a crescente consciência de que o Sudeste Asiático emergiu como um contraponto fundamental ao domínio econômico ocidental, oferecendo ao Brasil uma alternativa estratégica aos parceiros tradicionais.
O protecionismo trumpista e a busca por alternativas
A administração Trump, desde janeiro de 2025, impôs uma série de medidas protecionistas sem precedentes: tarifas de 25% sobre automóveis, gravames elevados contra a China, e um sistema de “tarifas recíprocas” que atinge 57 países por supostas “práticas comerciais não recíprocas”. Esta política de confronto comercial, combinada com o extenso regime de sanções americanas e europeias que hoje afeta dezenas de nações, evidencia a urgência de construir canais alternativos de comércio internacional.
A Europa, historicamente submissa às diretrizes geopolíticas de Washington, encontra-se numa posição cada vez mais constrangedora. Como observou o presidente francês Emmanuel Macron, a Europa “não pode ser vassala dos Estados Unidos”, mas na prática continua seguindo as sanções americanas mesmo quando contrariam seus próprios interesses econômicos. Esta vassalagem europeia aos EUA tornou-se ainda mais evidente com as recentes sanções americanas contra juízes do Tribunal Penal Internacional, lamentadas pela própria União Europeia, mas aceitas passivamente.
A revolução silenciosa do comércio Sul-Sul
Os números revelam uma transformação que vai muito além do econômico. Em 2025, o Brasil exportou US$ 24,6 bilhões para a ASEAN e importou US$ 11,3 bilhões, gerando um superávit comercial de US$ 13,3 bilhões. Este saldo positivo contrasta dramaticamente com o déficit de US$ 1,1 bilhão registrado com os Estados Unidos, evidenciando como a cooperação Sul-Sul oferece relações comerciais mais equilibradas e mutuamente benéficas, livres das chantagens tarifárias e sancionatórias que caracterizam as relações com o Norte Global.
A pauta exportadora brasileira para a ASEAN nos primeiros cinco meses de 2025 foi dominada por commodities estratégicas: óleos combustíveis de petróleo (US$ 1,49 bilhão), farelos de soja (US$ 1,30 bilhão), óleos brutos de petróleo (US$ 1,24 bilhão), soja (US$ 727 milhões) e minério de ferro (US$ 658 milhões). Estes produtos representam a complementaridade natural entre a abundância de recursos naturais brasileiros e a crescente demanda industrial asiática, numa relação que prescinde das intermediações e imposições do Norte Global.
BRICS e ASEAN: A convergência multipolar
A importância estratégica da ASEAN transcende os números comerciais quando observamos sua crescente integração com os BRICS. Países como Tailândia e Indonésia já manifestaram interesse em aderir ao bloco liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, sinalizando a formação de um eixo geopolítico que representa mais da metade da população mundial e cerca de 40% do PIB global.
Esta convergência não é coincidência. Representa a materialização de uma nova ordem mundial multipolar, onde o Sul Global assume protagonismo na definição das regras do jogo econômico internacional, livre das imposições unilaterais de Washington e da submissão europeia aos interesses americanos. O Brasil, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que retornou ao poder em outubro de 2022 com um projeto explícito de fortalecimento das relações Sul-Sul – posiciona-se como articulador fundamental desta transformação.
A ferrovia da integração continental
Um dos projetos mais ambiciosos desta nova geopolítica é a ferrovia bioceânica que ligará o Brasil ao Porto de Chancay, no Peru, construído pela China. Esta infraestrutura revolucionária não apenas reduzirá drasticamente os custos logísticos para o comércio com a Ásia, mas simboliza a materialização de uma integração continental que prescinde dos tradicionais centros de poder do Norte Global e suas redes de dependência.
A ferrovia representa mais que uma obra de engenharia: é a concretização de uma visão estratégica que coloca a América do Sul no centro das rotas comerciais globais, conectando diretamente os recursos naturais brasileiros aos mercados asiáticos em expansão, sem a intermediação dos portos norte-americanos ou europeus, e livre das ameaças tarifárias e sancionatórias que caracterizam as relações com o Ocidente.
O futuro multipolar: Otimismo e transformação
A evolução das relações Brasil-ASEAN nos últimos 20 anos ilustra uma tendência irreversível e profundamente otimista. De uma participação marginal de 6,3% das exportações brasileiras em relação aos Estados Unidos em 2001, a ASEAN alcançou impressionantes 59,9% em 2025, com pico de 68,8% em 2021. Este crescimento exponencial reflete não apenas oportunidades econômicas, mas uma reorientação geopolítica consciente rumo a um mundo mais justo e equilibrado.
Os países da ASEAN, com taxas de crescimento econômico que superam consistentemente as economias desenvolvidas, representam o futuro otimista de um mundo multipolar. Suas economias diversificadas – da tecnologia de Singapura à manufatura vietnamita, dos recursos naturais da Indonésia aos serviços financeiros da Malásia – oferecem ao Brasil parcerias estratégicas que vão muito além da tradicional relação Norte-Sul de exportação de commodities.
“Enquanto alguns constroem muros e impõem tarifas, nós construímos pontes e promovemos a cooperação. A ASEAN e o Brasil compartilham a visão de um mundo onde o diálogo substitui a confrontação, onde a multipolaridade substitui a hegemonia.”
— Anwar Ibrahim, Primeiro-Ministro da Malásia e Presidente da ASEAN 2025
Enquanto Trump ergue muros tarifários e a Europa se submete passivamente às diretrizes de Washington, o Brasil de Lula constrói pontes. Ao fortalecer os laços com a ASEAN, o país consolida sua posição como potência emergente capaz de articular uma nova ordem mundial mais justa, equilibrada e multipolar. Esta não é apenas uma mudança econômica – é uma revolução geopolítica que redefine o papel do Sul Global no século XXI e oferece uma perspectiva genuinamente otimista para o futuro da humanidade.
O mundo assiste hoje ao nascimento de uma nova era: a era da multipolaridade, da cooperação Sul-Sul, e da superação definitiva da hegemonia unipolar que caracterizou o final do século XX. O Brasil, através de sua parceria estratégica com a ASEAN, não apenas participa desta transformação histórica – a lidera com otimismo e determinação, provando que um outro mundo é possível.