Brasil deve defender a soberania venezuelana contra a agressão imperialista

No mesmo dia em que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Nicolás Maduro como o vencedor das eleições presidenciais venezuelanas, a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) publicou uma nota oficial saudando o povo venezuelano pelo seu processo eleitoral. Embora curta, a nota continha o fundamental: criticou as sanções econômicas criminosas impostas pelo imperialismo norte-americano ao país latino-americano, protestou contra a violência da direita fascista venezuelana e se insurgiu contra qualquer tipo de ingerência externa. A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e o conjunto da direção petista acertaram em cheio.

Infelizmente, o mesmo não pode ser dito do governo federal. É vergonhoso que o partido que governa o maior país da América do Sul tenha se posicionado em relação às eleições venezuelanas, mas que o próprio governo permaneça em silêncio.

Não por acaso, os primeiros a reconhecerem a vitória de Maduro foram os países com maior independência em relação ao imperialismo norte-americano. Rússia, Irã, China, Nicarágua, Honduras e Cuba saudaram o presidente por sua vitória poucas horas depois de o resultado ser proclamado, fortalecendo, corretamente, o seu aliado sul-americano. O reconhecimento do resultado eleitoral significa, neste momento, apoiar o povo venezuelano contra uma grande provocação do imperialismo norte-americano, que, sem provas, acusa Maduro de ter fraudado as eleições.

Ainda que o governo brasileiro não tenha acusado Maduro de fraudar as eleições, nem o tenha chamado de “ditador”, seu silêncio, neste caso, favorece ao cerco que o imperialismo está promovendo contra o governo venezuelano. Na medida em que o governo Lula, que deveria ser o maior polo de resistência à dominação imperialista na América Latina, não reconhece a vitória de Maduro, deixa o caminho livre para que o imperialismo avance em uma conspiração golpista contra o único regime político progressista da América do Sul.

Enquanto não há uma declaração oficial da presidência da República, outros acontecimentos vão tornando a posição do governo ainda mais grave. Em nota do Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro afirmou que aguardaria a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito. Considerando que o mesmo CNE foi quem proclamou a vitória de Maduro, o governo está, implicitamente, mostrando sua desconfiança em relação ao CNE. Afinal, em qualquer eleição no mundo, a posição tradicional da diplomacia brasileira tem sido a de acatar o resultado oficial, e não o de investigar, ele próprio, a lisura de qualquer processo.

A postura do governo, ao estimular a desconfiança no CNE, está em contradição com o que disse o próprio presidente Lula antes das eleições:

“Por que eu vou querer brigar com a Venezuela? Por que eu vou querer com Nicarágua? Por que eu vou querer com a Argentina? Eles que elejam os presidentes que quiserem. O que me interessa é a relação de Estado para Estado, o que que o Brasil ganha e o que que o Brasil perde nesta relação.”

Mais grave que a nota do Ministério das Relações Exteriores foi o suposto veto deste órgão à embaixadora do Brasil na Venezuela, Gilvânia Oliveira. Segundo o jornal Valor Econômico, Oliveira foi orientada pelo Ministério das Relações Exteriores a não comparecer a uma reunião com representantes estrangeiros convocada hoje pelo presidente Nicolás Maduro. O Ministério teria alegado que a reunião seria “prematura”, pois ainda haveria “dúvidas” sobre o processo eleitoral.

As declarações do assessor internacional da Presidência da República, Celso Amorim, também vêm comprometendo o governo Lula no que diz respeito à defesa do processo eleitoral venezuelano. Em crítica aberta ao regime, Amorim destacou que “é meio difícil ter a proclamação do resultado com solenidade [como acontecerá em Caracas dentro de algumas horas], sem ter a transparência, a disponibilidade das atas”.

Não é hora de um país como o Brasil, que sempre foi solidário com os oprimidos, ainda mais sob um governo popular e de esquerda, questionar se houve fraude ou não, ecoando as denúncias dos maiores delinquentes políticos do planeta. É preciso combater a pressão do grande capital sobre a América Latina e denunciar aos quatro ventos que está em marcha um golpe de Estado contra o povo venezuelano. Um golpe que, se bem sucedido, não apenas levará ao poder uma direita fascista, que promoverá um banho de sangue, como que também tornará o governo Lula ainda mais isolado na América Latina.

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