A discussão sobre soberania digital e exploração de recursos estratégicos voltou ao centro do debate nacional na última semana, após a declaração do presidente norte-americano Donald Trump colocá-la como condição para negociar o tarifaço que impôs ao Brasil.

Durante o programa TVGGN 20H, o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) Cláudio Schon, que falou sobre uma política nacional de terras raras.

“É uma pergunta bem complicada, porque, se eu não me engano, o meu colega Fernando Landgraaf esteve aqui no programa de você e disse que não basta você minerar, certo? Você tem que beneficiar o minério, você tem que processar o minério, obter os metais, ter uma indústria que use esses metais, certo? Não é simplesmente ir cavando terra que a gente vai conseguir usar as terras raras”, apontou o professor.

Na área de minerais estratégicos, o Brasil segue atuando como mero exportador de matéria-prima, sem agregar valor ao que é extraído. Falta, no entanto, empreendedores que tenham tal visão de oportunidade. 

“A gente deixa de processar uma coisa que custa 5 mil dólares o grama porque a gente não consegue produzir um negócio que custa 50 centavos o litro”, emendou.

Histórico

O país, no entanto, esteve na vanguarda no uso de metais fundamentais para tecnologias modernas como baterias, turbinas e equipamentos militares, mas abandonou o desenvolvimento nesse setor nas últimas décadas. Exemplo disso foi o desmonte de projetos na década de 1980 no Instituto de Física, que desenvolvia ímãs à base desses elementos.

O professor lembrou que há décadas o Brasil também produzia materiais de alto valor agregado, como superligas de níquel e ligas de alumínio aeronáutico. 

“A gente já teve no catálogo a produção de todas as ligas importantes de alumínio, inclusive alumínio aeronáutico. Hoje em dia é difícil você comprar no mercado. Um colaborador meu precisou comprar a liga endurecível precipitação, é uma classe especial de ligas de alumínio, e não encontrou no mercado nacional, teve que pedir para mandarem lá da Europa para a gente. Minha bronca é que a universidade faz seu trabalho, eu sinto que o governo faz seu trabalho […]. O que falta agora é o empresariado responder. Vai dizer que não tem gente com dinheiro para investir no resgate dessas tecnologias? Claro que tem. E me dá muita raiva ver que a gente não tem empreendedor no país”, lamentou.

Outro fator apontado como limitador do desenvolvimento industrial é o custo do capital no Brasil. “Com uma taxa Selic alta por tanto tempo, os empresários preferem aplicar no mercado financeiro do que investir em inovação”, observou o jornalista Luís Nassif.

Hidrogênio verde

O debate também destacou iniciativas promissoras, como o projeto de hidrogênio verde do RCGI (Research Centre for Greenhouse Gas Innovation), criado pela USP com apoio da Shell. O centro pesquisa formas de obter hidrogênio a partir do etanol, reduzindo riscos associados ao transporte de gás comprimido.

“Processar etanol para produzir hidrogênio deveria ser o carro-chefe do desenvolvimento de todas as empresas produtoras de etanol no Brasil”, afirmou Schon. Segundo ele, o etanol é uma das formas mais seguras de transportar hidrogênio, com alto potencial de aplicação e exportação.

Confira o debate na íntegra em:

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Last Update: 27/07/2025