A assinatura de um memorando de entendimentos entre a Raízen, a empresa SAFPAC e o governo brasileiro marca um novo estágio no processo de internacionalização do etanol como base para combustível sustentável de aviação (SAF). O acordo foi firmado nesta segunda-feira, 12, durante a missão oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China.

O entendimento define as diretrizes para o uso do etanol brasileiro como insumo na produção de SAF na região Ásia-Pacífico, considerada estratégica para a aviação comercial. A proposta técnica envolve a aplicação da tecnologia conhecida como Alcohol-to-Jet (ATJ), que permite converter o etanol em querosene de aviação com menor emissão de carbono.

A Raízen será responsável pelo fornecimento do etanol, incluindo o combustível de segunda geração produzido a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Segundo os termos do memorando, o projeto será implementado em três fases, com a meta de atingir até 500 milhões de toneladas anuais de SAF entre os anos de 2030 e 2033.

O documento firmado não contempla, até o momento, contratos de compra e venda, mas estabelece parâmetros técnicos e comerciais para a cooperação.

Entre as cláusulas estão compromissos de confidencialidade que permanecerão válidos por três anos mesmo após eventual encerramento da parceria. Também ficou acordado que nenhuma das partes poderá reivindicar propriedade intelectual sobre dados, marcas ou tecnologias compartilhadas no âmbito do projeto.

A produção de SAF com etanol brasileiro fora do país representa, de acordo com especialistas do setor, um novo posicionamento estratégico para o Brasil no contexto da transição energética.

O país deixa de atuar apenas como exportador de matérias-primas e passa a integrar cadeias internacionais de fornecimento de insumos renováveis aplicados à descarbonização.

O acordo foi anunciado durante missão empresarial e diplomática organizada pelo governo federal na China, que teve como foco ampliar as relações comerciais entre os dois países.

A delegação brasileira contou com a participação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

As negociações incluíram esforços para reduzir barreiras regulatórias que dificultam a entrada de produtos biotecnológicos brasileiros no mercado chinês.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) mapeou cerca de 400 oportunidades comerciais no país asiático, com potencial para aumentar a presença de produtos brasileiros com maior valor agregado, como o etanol avançado.

A cooperação entre Raízen e SAFPAC ocorre em um momento de expansão global da demanda por combustíveis sustentáveis de aviação. A meta estabelecida por organismos internacionais da aviação civil prevê que o SAF represente uma parcela significativa do consumo de combustível do setor até 2050, como parte dos compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa.

A tecnologia ATJ é considerada uma das rotas possíveis para produção de SAF e tem como diferencial o uso de etanol, produto no qual o Brasil possui larga experiência e capacidade produtiva. O uso do etanol de segunda geração, por sua vez, contribui para a redução da pegada de carbono do combustível final, ao utilizar resíduos da produção agrícola como matéria-prima.

O memorando assinado também integra a estratégia do governo brasileiro de reforçar o papel do país nas cadeias globais de energia limpa e inovação tecnológica. A interlocução com parceiros asiáticos busca atrair investimentos e promover a inserção de produtos brasileiros em mercados com alta exigência ambiental.

Além do componente energético, a parceria reflete o alinhamento do Brasil com plataformas internacionais de sustentabilidade e posiciona o país como fornecedor relevante na cadeia de valor de soluções ambientais aplicadas à mobilidade aérea.

A China, por sua vez, tem buscado ampliar o acesso a fontes renováveis de energia e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. A incorporação do SAF como opção para o setor aéreo integra o plano chinês de modernização e redução de emissões, alinhado aos compromissos assumidos pelo país em acordos climáticos multilaterais.

A iniciativa bilateral no setor de biocombustíveis ocorre no contexto de intensificação das relações comerciais entre Brasil e China, que já mantêm fluxos significativos no comércio agrícola e mineral. O novo eixo de cooperação energética adiciona uma dimensão tecnológica às trocas bilaterais, com potencial de atrair novos investimentos e ampliar o escopo de exportações brasileiras.

O governo brasileiro avalia que o avanço de parcerias como a firmada com a SAFPAC pode contribuir para consolidar a imagem do Brasil como fornecedor de soluções energéticas compatíveis com os requisitos ambientais das principais economias globais. A expectativa é que a iniciativa facilite a inserção de outras empresas brasileiras em cadeias internacionais de valor associadas à transição energética.

Embora ainda em fase inicial, o projeto estabelece uma estrutura de colaboração que pode servir de modelo para futuras iniciativas em outras regiões. O desempenho da parceria e sua evolução até 2030 serão acompanhados por representantes das empresas e autoridades dos dois países, com foco na viabilidade comercial, tecnológica e ambiental da produção internacional de SAF a partir do etanol brasileiro.

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Last Update: 13/05/2025