A partir desta quarta-feira (1º), o Brasil assume a presidência rotativa do BRICS, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de novos membros recentemente incorporados, com a missão de consolidar a expansão do bloco e promover reformas na governança global. Com um peso crescente na economia mundial, o BRICS agora conta com dez membros efetivos e projeta a inclusão de novos parceiros em 2025.
O mandato, que se estenderá por um ano, marca o retorno do país à liderança do grupo em um momento de ampliação e debates sobre reformas na governança global e maior cooperação entre economias emergentes.
Prioridades da presidência brasileira
O governo brasileiro definiu como prioridade fortalecer a cooperação entre países do Sul Global, incentivar o uso de moedas locais no comércio internacional, avançar em projetos de inteligência artificial inclusiva e enfrentar desafios das mudanças climáticas. Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o Brasil pretende alinhar a agenda do BRICS com temas estratégicos de interesse global.
O Itamaraty anunciou cinco temas principais para a presidência do Brasil:
- Facilitação do comércio e investimentos com uso de moedas locais.
- Governança inclusiva da inteligência artificial, com ênfase em responsabilidade e ética.
- Financiamento para mudanças climáticas, em linha com compromissos de sustentabilidade.
- Saúde pública no Sul Global, promovendo cooperação técnica e científica.
- Fortalecimento institucional do Brics, com foco em ampliar a eficácia do bloco.
De acordo com o Itamaraty, mais de 100 reuniões de trabalho estão previstas até julho em Brasília, culminando na cúpula dos chefes de Estado no Rio de Janeiro. O governo também articula a inserção de novos membros e parceiros no bloco, ampliando a representatividade de economias emergentes em uma ordem global que historicamente privilegia os países desenvolvidos.
A expansão do BRICS e seus desafios
Além dos cinco novos membros incorporados em 2024 — Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Arábia Saudita —, outros nove países foram convidados a integrar o bloco: Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. A categoria de “parceiros”, criada em 2024, também amplia a participação de países como Nigéria, Turquia, Argélia e Vietnã, que terão direito de participar de reuniões, mas sem poder de voto. Segundo a assessoria do Itamaraty, a categoria de participação desses novos integrantes — como membros plenos ou parceiros — ainda está em definição.
Especialistas destacam os desafios de gerir um bloco tão amplo. Para muitos, a expansão traz desafios operacionais e políticos como a criação de mecanismos para integrar as demandas de novos membros sem comprometer a eficiência do bloco.
BRICS e o papel do Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reiterado a importância de grupos como o BRICS para ampliar a inserção do Brasil na geopolítica internacional. A busca por um sistema de pagamento que reduza a dependência do dólar norte-americano é um dos temas centrais da presidência brasileira. A medida, no entanto, gerou reações nos Estados Unidos. O presidente eleito Donald Trump ameaçou impor tarifas de até 100% a produtos de países do BRICS que abandonem o uso do dólar.
Especialistas apontam que as ameaças de Trump refletem o peso crescente do BRICS na economia global, devido à inviabilidade no longo prazo. A substituição do dólar é vista como uma forma de reduzir a vulnerabilidade às flutuações da moeda norte-americana e ao impacto de políticas monetárias dos EUA sobre economias emergentes. Fóruns como o BRICS são essenciais para contrabalançar a hegemonia norte-americana em um cenário de crescente multipolaridade.
Projeção global e desafios internos
O BRICS representa hoje mais de 40% da população global e 37% do PIB mundial por paridade de poder de compra, superando o G7 em termos de relevância econômica. Com a presidência brasileira, o grupo busca consolidar seu papel como uma alternativa aos sistemas tradicionais de poder, promovendo inclusão e cooperação entre economias emergentes.
Uma das bandeiras históricas do Brics, a reforma de instituições globais como o Conselho de Segurança da ONU, o Banco Mundial e o FMI, permanece em destaque. O grupo busca ampliar a representatividade de países da Ásia, África e América Latina nessas instâncias, desafiando a estrutura dominada por economias desenvolvidas.
No entanto, o sucesso da presidência brasileira dependerá da capacidade de articular interesses diversos entre os membros do bloco e de avançar em pautas concretas, como o fortalecimento institucional e a implementação de políticas sustentáveis e inclusivas.
Com a presidência do BRICS, o Brasil se coloca no centro de debates sobre o futuro da governança global, reafirmando seu compromisso com um sistema internacional mais equilibrado e representativo.