Nascido em Ramalá em 1882, Boulos Hehadeh foi uma figura destacada na resistência palestina durante o Mandato Britânico. Jornalista, educador e poeta, fundou o jornal Mirʾat al-sharq em 17 de setembro de 1919, que se consolidou como porta-voz do movimento nacionalista. Participou ativamente de congressos árabes palestinos e contribuiu para a criação do Partido Nacional Árabe em 1923, defendendo posições moderadas ancoradas no princípio de “tomar e exigir mais”. Morreu em Jerusalém em 1º de agosto de 1943, deixando um legado de luta intelectual e estratégica contra a ocupação.
Filho de Ramalá, Hehadeh tinha dois irmãos, Niqula e Ibrahim, e casou-se com Mary Sarroum, com quem teve três filhos: Aziz, Fuad e Najla. Estudou no Zion College em Jerusalém, onde obteve o diploma de ensino médio, e no Shabab College, posteriormente renomeado English College, aprofundando-se em árabe sob a tutela do renomado Nakhla Zurayk.
Dominando árabe e inglês, iniciou carreira como correspondente de jornais árabes, publicando a coluna “Espinhos e Flores” no Lisan al-hal, de Beirute. Após graduar-se, lecionou em escolas ortodoxas em Gaza e Haifa, assumindo a direção desta última em 1907.
Naquele ano, enfrentou ordem de prisão das autoridades otomanas, que o condenaram à morte por exigir a deposição do sultão Abdul Hamid II. Disfarçado, fugiu para Gaza, de onde amigos o conduziram ao Cairo. Lá, escreveu para periódicos como al-Zuhur, al-Muʾayyad, al-Muqattam e al-Hilal, além de artigos educacionais no al-Muqtataf.
Com a restauração da constituição otomana em 1908, Hehadeh retornou à Palestina, engajando-se na imprensa e na educação. Dirigiu a escola ortodoxa em Belém até 1914, quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu. Durante o conflito, atuou como funcionário em Bir al-Sabi‘ e assistente de farmácia junto ao irmão, o médico Niqula Hehadeh, em Jenin.
De 1919 a 1922, lecionou na escola Rashidiyya em Jerusalém. No final da década de 1910, intensificou sua militância política, participando de congressos nacionalistas e fundando partidos opostos ao mufti de Jerusalém, Muhammad Amin al-Husseini, cuja liderança considerava inadequada para a luta unificada.
Em 1919 lança o Mirʾat al-sharq, um semanário político de quatro páginas, para orientar os leitores em questões sociais e econômicas e fortalecer a luta pela libertação da nação palestina. Em 1920, o órgão passou a bissemanal, com uma página em inglês, e em 1925 expandiu-se para 12 páginas semanais.
Entre seus editores destacaram-se Ahmad al-Shuqairi, primeiro presidente da Organização para a Libertação da Palestina e chefe de redação em 1928, e Akram Zuayter, fundador do Partido Istiqlal, que liderou o jornal em 1930 até ser preso e exilado em Nablus. Omar al-Saleh al-Barghouti também colaborava com colunas regulares.
O jornal enfrentou suspensões pelas autoridades britânicas e foi encerrado em 1939, após publicar um poema que incitava revolta contra o Mandato. Hehadeh usava o periódico para apontar falhas dos líderes nacionalistas, condenar a intolerância religiosa e propor uma revolução intelectual liderada pela juventude.
Mary Sarroum, sua esposa, destacou-se como pioneira do jornalismo palestino, escrevendo sobre educação e direitos das mulheres, ao lado de Sadhij Nassar e Asma Tubi. Hehadeh também produziu poesia, traduziu obras do inglês para o árabe e adaptou o romance Hassan como peça teatral, doando os lucros para a escola nacional de Belém, fundada por Ratiba Shuqair.
Além de sua atuação na imprensa, Hehadeh integrou o Comitê de União e Progresso otomano após 1908, refletindo seu compromisso com reformas políticas. Sua experiência no Cairo ampliou sua rede de contatos com intelectuais árabes, influenciando sua visão nacionalista.
O Mirʾat al-sharq defendia uma estratégia gradualista, exigindo clareza sobre o futuro da minoria judaica na Palestina e alertando para os riscos do sectarismo. Hehadeh criticava abertamente a falta de unidade no movimento palestino, apontando a necessidade de organização popular.
Sua esposa, Mary, reforçava a mobilização feminina, destacando a importância das mulheres na luta nacional. O jornal publicava artigos em inglês para alcançar audiências internacionais, buscando apoio à causa palestina.
As suspensões do Mirʾat al-sharq refletiam a repressão britânica à imprensa nacionalista. Em 1939, o fechamento definitivo marcou o fim de uma plataforma crucial para o debate político. Hehadeh continuou ativo até sua morte, participando de iniciativas educacionais e culturais.
Sua poesia, publicada na revista al-Nafaʾis, e traduções enriqueciam o cenário cultural palestino. O legado de Hehadeh permanece na história da imprensa e do nacionalismo, inspirando gerações a resistir com estratégia e intelecto.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 25/06/2025