No último sábado (24), durante comício realizado na praça do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo e contando com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a campanha do candidato à prefeitura pelo PSOL Guilherme Boulos protagonizou um episódio que escandalizou o País: uma interpretação do Hino Nacional em que o verso “dos filhos deste solo és mãe gentil” foi adaptado à chamada “linguagem neutra”. No palco da campanha de Boulos, o verso virou “‘des filhes’ desse solo és mãe gentil”. Veja:

No vídeo, chama atenção uma demonstração singela de desconforto por parte Lula no momento em que a avacalhação com o Hino Nacional é cometida e também, o entusiasmo do sorridente psolista. Divulgado no dia 27 pela campanha de Boulos, no entanto, o vídeo foi considerado “munição para a direita”, desencadeando uma onda de críticas inclusive da esquerda, que levaram o psolista a apagar o vídeo de seus perfis de campanha.

Uma das críticas veio do próprio correligionário de Boulos, colega do postulante à prefeitura de São Paulo na ONG golpista IREE e ex-presidente do partido pequeno-burguês, Juliano Medeiros. Em seu perfil oficial no X, Medeiros declarou que a intérprete “resolveu lacrar em cima do hino nacional (sic)” e pediu “foco” aos simpatizantes da candidatura psolista:

“Gente, foco: a notícia que a galera que quer Boulos na prefeitura deveria estar repercutindo hoje é o desempenho formidável dele ontem no Roda Viva, não pesquisa fake ou cantora que resolveu lacrar em cima do hino nacional e da nossa campanha. Foco, gente. FOCO!”

A colocação de Medeiros é um reflexo de que o identitarismo encontra-se cada vez mais desmoralizado. O ex-dirigente psolista comandou o partido durante o apogeu da ideologia importada do imperialismo, entre a metade da década passada até 2023, quando o PSOL tornou-se o partido identitário por excelência. Não é para menos.

A insistência em atacar aspectos culturais profundamente enraizados na sociedade, como a própria linguagem e o Hino Nacional, o identitarismo se choca com quase a imensa maioria do povo brasileiro, especialmente os trabalhadores, que acertadamente, veem nessas ações uma agressão e uma ameaça à sua identidade cultural. Além disso, a rejeição crescente também se deve ao fato de que a ideologia é totalmente artificial, desconectada das verdadeiras necessidades e preocupações do povo.

O fato dessa ideologia aparecer de forma tão natural para os vídeos promocionais de Boulos revela que essa é uma campanha eleitoral e política identitária e que esses infiltrados continuam ganhando força, e espaço, no interior do governo federal. Um exemplo notável dessa influência foi o episódio envolvendo a ex-assessora da ministra da Igualdade Racial Anielle Franco. Durante a final da Copa do Brasil, Marcelle Decothé da Silva achou de bom tom publicar em suas redes sociais uma mensagem ofensiva ao povo de São Paulo e à torcida do tricolor paulista, chamando-os de “pauliste, safade”, provocando um escândalo que resultou em sua demissão. A ação destemperada, ao invés de agregar, desagrega, criando divisões e antagonismos que favorecem aqueles que buscam minar o governo e desmoralizar lideranças populares como Lula.

Ao apoiar e promover os identitários, Boulos e seus aliados não apenas enfraquecem a esquerda, mas também colaboram decisivamente para a desmoralização do presidente Lula, abrindo espaço para que a extrema direita ganhe terreno em cima das loucuras identitárias, seja ofendendo a população do estado mais importante e populoso da União, seja avacalhando com a cultura nacional e o Hino. Essa é uma manobra perigosa, pois ao deslegitimar o presidente e suas políticas, o identitarismo cumpre um papel estratégico na campanha para substituir Lula por uma liderança mais alinhada com essa política, atualmente, o próprio Guilherme Bouls.

Sob essa perspectiva, o episódio do comício de Boulos não se trata de um incidente isolado, mas o reflexo de uma estratégia mais ampla, que busca fortalecer uma política que, ao invés de unir, divide e enfraquece. Para Lula, ceder a essa chantagem significa não apenas perder o apoio popular, mas também abrir espaço para que a extrema direita, que se alimenta da ojeriza causada pelas extravagâncias dos identitários.

Boulos pode apagar os vídeos após a enxurrada de críticas e Medeiros pode também criticar o episódio. A campanha psolista pode inclusive jogar a responsabilidade para a intérprete, dizendo que a decisão de avacalhar o Hino Nacional foi tomada pela cantora e não pela campanha. Isso não importa tanto quanto o fato de o PSOL ser o partido que mais trabalhou para que esse tipo de situação ocorresse e continua sendo uma agremiação dominada por ONGs, e toda sorte de infiltração imperialista no interior da esquerda.

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Última Atualização: 29/08/2024