A operação militar conduzida pelos Estados Unidos contra três instalações nucleares no Irã provocou reações imediatas nos mercados financeiros e acendeu alertas sobre os efeitos da escalada no Oriente Médio. A ação, apoiada por Israel, foi confirmada pelo presidente Donald Trump, que declarou: “os principais centros de enriquecimento de urânio do Irã foram completamente e totalmente obliterados”.
Em pronunciamento televisionado, Trump descreveu os ataques como “um sucesso militar espetacular” e advertiu que ofensivas adicionais poderão ser executadas caso Teerã não aceite iniciar negociações de paz. A resposta do governo iraniano veio por meio do ministro das Relações Exteriores, Abbas Araqchi, que afirmou em evento realizado em Istambul que o país “reserva todas as opções para se defender” e alertou sobre “consequências eternas”. Araqchi também condicionou qualquer possibilidade de diálogo a uma resposta proporcional por parte do Irã.
O ataque elevou a percepção de risco entre investidores e afetou múltiplos segmentos do mercado global. A possibilidade de desdobramentos militares levou analistas a preverem uma disparada no preço do petróleo e aumento na procura por ativos considerados seguros, como dólar e títulos do Tesouro dos EUA.
Mark Spindel, diretor de investimentos da Potomac River Capital, avaliou que “os mercados vão inicialmente reagir com alarme, e o petróleo vai abrir em alta”. Para ele, o impacto exato dependerá da extensão dos danos causados pela ofensiva, mas a incerteza deve prevalecer.
Apesar do cenário, as bolsas de valores nos países do Golfo Pérsico registraram relativa estabilidade ou variações leves no domingo, primeiro dia útil da semana na região. Os principais índices de Arábia Saudita, Catar e Kuwait não apresentaram oscilações significativas. Já a Bolsa de Tel Aviv, em Israel, encerrou o dia com recorde histórico.
No setor de criptoativos, a instabilidade foi mais acentuada. A moeda digital ether, a segunda maior em valor de mercado, caiu 8,5% apenas no domingo. Desde o início da ofensiva israelense no dia 13 de junho, a queda acumulada da criptomoeda atingiu 13%.
Outro ponto de atenção no cenário internacional é a possibilidade de aumento da inflação global, motivada por um possível salto nos preços da energia. Saul Kavonic, analista da empresa australiana MST Marquee, alertou que o Irã pode responder mirando a infraestrutura energética dos Estados Unidos no Oriente Médio, com destaque para o Golfo e o Estreito de Ormuz — canal estratégico por onde circula cerca de um terço do petróleo mundial.
“Tudo depende de como o Irã vai reagir nas próximas horas e dias. Mas se a resposta seguir as ameaças anteriores, o petróleo pode atingir a marca de 100 dólares”, disse Kavonic.
Desde o dia 10 de junho, o contrato Brent já acumula alta de 18%, alcançando US$ 79,04 por barril — o maior valor registrado em quase cinco meses. Mesmo diante da escalada, o índice S&P 500, referência da Bolsa de Nova York, manteve relativa estabilidade após uma leve queda inicial.
Jamie Cox, sócio da Harris Financial Group, acredita que a operação pode levar Teerã a buscar negociações. “Com essa demonstração de força e a aniquilação total das instalações nucleares, o Irã perdeu toda a sua vantagem de barganha e provavelmente vai tentar negociar um cessar-fogo”, declarou.
A ofensiva também reforçou a movimentação de investidores em direção a ativos de menor risco. Steve Sosnick, estrategista da IBKR, afirmou que “é difícil imaginar que as ações não reajam negativamente” e acrescentou que “a dúvida é o tamanho da correção”. Ele estima que os rendimentos dos títulos do Tesouro devem cair e o dólar ganhar força diante da instabilidade.
Jack McIntyre, gestor da Brandywine Global Investment Management, ponderou que os efeitos nos juros serão limitados, considerando a sensibilidade do mercado à inflação. Ele destacou que um possível “caminho para mudança de regime” no Irã, com abertura econômica, poderia gerar impactos mais abrangentes no futuro.
Historicamente, choques geopolíticos no Oriente Médio têm impacto imediato sobre os mercados, mas também apresentam sinais de recuperação nos meses seguintes. Um levantamento da Wedbush Securities em parceria com o CapIQ Pro indica que, nas três semanas posteriores ao início de confrontos militares na região, o índice S&P 500 recuou, em média, 0,3%. Entretanto, dois meses após esses eventos, a média de alta foi de 2,3%.
Mesmo com essa tendência histórica de recuperação, o episódio atual representa uma intensificação significativa nas tensões envolvendo Estados Unidos, Irã e Israel. A operação teve como alvo instalações nucleares, e o cenário inclui ameaças públicas de retaliação e advertências sobre impactos permanentes.
Com a volatilidade dos mercados, a pressão sobre os preços do petróleo e a elevação dos riscos inflacionários, os próximos desdobramentos da crise são observados com atenção por investidores, governos e organismos internacionais. A evolução do conflito poderá determinar não apenas o rumo da geopolítica regional, mas também influenciar decisões econômicas em escala global.
Com informações da Reuters