Jair precisava de uma foto com a Avenida Atlântica tomada de verde e amarelo. Pretendia atemorizar o judiciário e dobrar a pressão sobre o Congresso. Tinha que mostrar força às vésperas do início do julgamento do seu processo no STF, no dia 25. Mas menos de 20 mil pessoas compareceram ao ato em defesa da anistia a criminosos e golpistas. Foi muito pouco para quem alardeava a explosão da fúria popular em seu defesa. Bolsonaro foi dormir no domingo mais próximo da prisão.

Logo após esse revés de Jair, seu filho, Eduardo, anunciou sua partida definitiva aos EUA, licenciando-se do cargo de deputado federal. Há dois motivos principais que explicam a repentina fuga do 03 do país. Primeiro, a avaliação de que a condenação e a prisão da cúpula golpista nesse ano é uma possibilidade real, podendo inclusive atingi-lo em breve. É factível supor que a debandada de Eduardo antecipe o próximo passo do pai: a fuga do Brasil, com pedido de asilo político em alguma embaixada. Mas há uma segunda razão, e não menos importante. Fingindo martirização pela causa, 03 quer ficar com as mãos livres nos EUA para articular ações junto ao governo Trump contra a democracia e a soberania do Brasil, em socorro aos golpistas.

A estratégia do campo bolsonarista é retomar a Presidência da República em 2026, por meio das eleições. Embora o ato no Rio de Janeiro tenha sido esvaziado, é preciso ter nitidez sobre a enorme força política que extrema direita conserva no país. Não podemos subestima-los. A eventual eleição de um candidato bolsonarista, como Tarcísio de Freitas, abriria a porta para a anistia ampla e irrestrita a todos golpistas, intervenção no STF, entre outras graves medidas antidemocráticas. Para alcançar esse objetivo, o fascismo conta com a ingerência externa de Trump no Brasil e o agravamento da impopularidade de Lula.

A batalha pela prisão de Bolsonaro é decisiva

Como afirma o ditado popular: o jogo só acaba quando termina. Enquanto a condenação e a prisão de Bolsonaro e da cúpula golpistas não forem concretizadas, haverá risco de impunidade. Bolsonaro tentará reverter o fracasso de Copacabana no ato marcado para São Paulo, no dia 06 de abril. A extrema direita manterá pressão sobre o centrão para votar a anistia no Congresso.

O papel do STF e, em particular, de Alexandre de Moraes, vem sendo fundamental para que avance o processo de investigação e punição dos golpistas. Mas é um equívoco depositar somente nas mãos dos juízes da Suprema Corte a responsabilidade pelo resultado desse processo. É preciso também luta política e ideológica na sociedade com a “Sem Anistia”. E essa é uma a tarefa da esquerda e dos movimentos sociais. Primeiro, para que haja maioria social na população concordando com a prisão de Bolsonaro e seus generais. Segundo, para demonstrar que há milhares de brasileiros dispostos a ir às ruas pela condenação dos golpistas.

O filme Ainda Estou Aqui, que emocionou de milhões de pessoas e fez o país vibrar no Oscar, fala justamente dessa luta histórica por justiça e verdade. A missão que Eunice Paiva corajosamente abraçou em sua vida é a de todos nós nesse momento sombrio do país. Dia 30, está marcado o ato nacional em SP com o mote “Sem Anistia, prisão para Bolsonaro”. Que seja o momento inicial de uma ampla campanha democrática!

Apenas medidas populares de impacto podem recuperar a popularidade de Lula

A extrema direita aposta no fracasso do governo Lula e na ajuda de Trump para voltar ao poder, anistiar todos os golpistas e destruir a democracia no país. A queda na popularidade de Lula nos últimos meses é um sinal preocupante. Revela que o governo está lento no atendimento das promessas de campanha, com a política econômica sufocada pelas amarras do arcabouço fiscal. Consideramos que é preciso uma guinada à esquerda na política no governo, com a apresentação de medidas populares de amplo alcance social e suspensão do ajuste fiscal.

Felizmente, Lula apresentou o projeto de isenção de IR a quem ganha até R$ 5 mil e desconto a quem ganha até R$ 7 mil. Além disso, haverá taxação dos super-ricos que estavam isentos de impostos sobre lucros e dividendos. Essa lei de justiça tributária é de enorme importância. Será preciso pressão e mobilização social para que o Congresso a aprove ainda esse ano. Os parlamentares do centrão e do bolsonarismo atuarão para modificar para pior o projeto, visando a proteção dos privilégios dos milionários. Já os partidos de esquerda terão que agir para evitar retrocessos e melhorar o projeto.

Consideramos também que outras duas medidas populares, que afetam diretamente a vida da classe trabalhadora, são fundamentais e precisam ser defendidas pelo governo o quanto antes. São elas: (1) ações mais efetivas para a redução dos preços dos alimentos e dos combustíveis; e (2) fim da escola 6×1 e redução da jornada de trabalho para 40h semanais.

Com a defesa de pautas de forte impacto popular e a demonstração de que a extrema direita está contra essas melhorias para o povo, certamente Lula recuperará popularidade e chegará competitivo para a busca da reeleição em 2026.

Cabe aos partidos e lideranças de esquerda, assim como aos movimento sociais e sindicatos, a construção da mobilização social em defesa de medidas voltadas à classe trabalhadora — exigindo que o governo abrace essa agenda —, assim como a batalha política e ideológica na sociedade contra a extrema direita.

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Last Update: 19/03/2025