A transcrição de um áudio gravado clandestinamente pelo deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), aponta que o ex-presidente e aliados discutiram maneiras de obter dados de órgãos oficiais sobre investigações contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e manter tudo “fechadíssimo”.
A gravação, cujo sigilo foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), faz parte do inquérito que investiga o uso da Abin para espionagem ilegal de adversários de Bolsonaro.
Durante a reunião, a advogada Luciana Pires fala sobre buscar dados de pessoas envolvidas em investigações sobre Flávio. Segundo a Polícia Federal (PF), o entorno de Bolsonaro procurava identificar quem, dentro da Receita Federal, estava conduzindo a investigação para remover essa pessoa do processo.
“Olha, em tese, com um clique você consegue saber se um funcionário da Receita [inaudível] esses acessos lá”, disse a advogada Luciana Pires.
“Tentar alertar ele que, ele tem que manter esse troço fechadíssimo. Pegar gente de confiança dele. Se vazar [inaudível]”, afirmou o general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
➡️ Moraes libera áudio de reunião com Bolsonaro gravada por Ramagem. Ouça
O áudio faz parte de investigação do monitoramento ilegal de pessoas e autoridades públicas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pic.twitter.com/p7944QwjUY
— Metrópoles (@Metropoles) July 15, 2024
Em seguida, Bolsonaro disse: “Tá certo. E, deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa. Que não estamos procurando favorecimento de ninguém”.
Os servidores da Receita identificaram movimentações financeiras de Flávio Bolsonaro com base em levantamentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que mostrava incompatibilidade com a renda do parlamentar. O áudio também revela que o ex-chefe do Executivo sugeriu conversar sobre o caso do filho com os então chefes do Serpro e da Receita.
Ainda durante a conversa, Bolsonaro indicou procurar o ex-ministro Gustavo Canuto, que comandava a Dataprev, para verificar o acesso de dados pela Receita. Heleno demonstrou preocupação com o vazamento do tema.