O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi intimado pela Polícia Federal nesta quinta-feira, 5, para prestar depoimento no inquérito que investiga a deputada federal Carla Zambelli (PL).
A oitiva ocorre no mesmo dia em que Bolsonaro também deve ser ouvido em outro processo envolvendo seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), suspeito de tentativa de interferência no Poder Judiciário. As informações foram divulgadas pela jornalista Andréia Sadi, do portal g1.
A nova investigação foi instaurada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na quarta-feira (4), com base em declarações feitas por Zambelli durante uma entrevista na Europa. Segundo interlocutores da Corte, a deputada é suspeita de coação no curso do processo e tentativa de interferência em apuração sobre organização criminosa.
Na entrevista, Zambelli afirmou que pretende “agir contra o STF” mesmo estando fora do Brasil. A parlamentar encontra-se no exterior e, nas redes sociais, vem mantendo posicionamento crítico em relação ao Supremo Tribunal Federal, prática semelhante à adotada por Eduardo Bolsonaro.
A atuação de Zambelli ocorre em um contexto de pressão sobre aliados do ex-presidente. Um parlamentar bolsonarista deixou o país após ser condenado a 10 anos de prisão por envolvimento na invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na ocasião, foi inserida uma ordem de prisão falsa contra o ministro Alexandre de Moraes.
Com base nesse episódio e nas declarações recentes da deputada, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou a prisão preventiva de Carla Zambelli. Também foi pedido que seu nome fosse incluído na lista de difusão vermelha da Interpol. O ministro Alexandre de Moraes acatou o pedido e oficializou a inserção da parlamentar no sistema internacional de busca da polícia nesta quinta-feira.
A situação de Zambelli envolve ainda um possível obstáculo jurídico: a parlamentar afirma possuir cidadania italiana. Esse fator pode dificultar um eventual processo de extradição, dependendo das legislações aplicáveis e dos acordos bilaterais em vigor entre Brasil e Itália.
Paralelamente, Eduardo Bolsonaro encontra-se nos Estados Unidos. O deputado federal alega que sua viagem tem como finalidade “focar em buscar as justas punições” contra o ministro Alexandre de Moraes e a Polícia Federal. Ele é investigado por suposta tentativa de articulação com aliados do ex-presidente norte-americano Donald Trump, atualmente em seu segundo mandato, para influenciar avaliações e decisões sobre ministros do STF.
A atuação de Eduardo nos Estados Unidos e as manifestações de Zambelli na Europa são vistas, entre bolsonaristas, como ações complementares de enfrentamento ao Supremo Tribunal Federal em contextos internacionais distintos. O discurso adotado por ambos tem buscado apoio fora do Brasil para questionar decisões judiciais proferidas pela Corte.
Os dois parlamentares se somam a um grupo de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro que estão sob investigação da Polícia Federal ou do Supremo Tribunal Federal. As investigações envolvem temas como tentativa de golpe de Estado, disseminação de informações falsas, ataques às instituições democráticas e organização de grupos antidemocráticos.
As oitivas previstas para esta quinta-feira devem fornecer novos elementos para os inquéritos em curso. A PF não divulgou detalhes sobre os horários e os locais dos depoimentos. Também não há informações sobre eventuais medidas cautelares adicionais que possam ser adotadas após as escutas.
Jair Bolsonaro, desde que deixou a Presidência da República, tem sido alvo de múltiplas frentes investigativas. Entre elas, destacam-se apurações relacionadas a suposta tentativa de golpe em 2022, uso indevido de dados sigilosos, irregularidades na vacinação contra a Covid-19 e práticas de desinformação durante o mandato.
Até o momento, o ex-presidente tem comparecido às convocações e vem negando as acusações. Sua defesa afirma que ele tem colaborado com as investigações e que não há provas de envolvimento direto nos episódios em apuração.
A assessoria de Carla Zambelli não respondeu aos pedidos de esclarecimento feitos pela imprensa até a publicação desta reportagem. Já a equipe de Eduardo Bolsonaro informou que o deputado permanece nos Estados Unidos e que não pretende retornar ao Brasil no curto prazo.
A inclusão do nome de Zambelli na lista de procurados da Interpol amplia a repercussão internacional do caso e deve mobilizar esforços diplomáticos entre Brasil e Itália. O Ministério das Relações Exteriores ainda não se manifestou oficialmente sobre o tema.
