“Estou me sentindo como uma criança de novo com o convite do Trump. Estou animado. Nem estou tomando Viagra mais”, disse Jair Bolsonaro em entrevista ao New York Times. “O gesto do Trump é algo para se orgulhar, não é? Quem é o Trump? O cara mais importante do mundo.”
Os fatos complicaram os planos, diz o jornal mais importante dos EUA. O Supremo Tribunal Federal confiscou o passaporte de Bolsonaro, no âmbito de uma investigação sobre uma tentativa de golpe após sua derrota nas eleições de 2022. Para comparecer à posse na segunda-feira, Bolsonaro pediu solicitação a Alexandre de Moraes, seu adversário político.
Na quarta-feira, a Procuradoria-Geral da República recomendou que o pedido fosse negado. Bolsonaro admitiu que provavelmente assistiria à conferência de casa.
Segundo o Times, o possível contraste — Trump reassumindo o cargo mais poderoso do mundo, enquanto Bolsonaro fica em casa por ordens judiciais — ilustra os rumores opostos tomados por dois políticos, muitas vezes comparados, desde que perderam seus mandatos e alegaram fraude eleitoral.
Em 2025, Trump irá para a Casa Branca, enquanto Bolsonaro poderá estar no caminho da prisão.
Três investigações criminais avançam contra ele, e há grande expectativa no Brasil — inclusive a própria — de que ele possa em breve enfrentar um dos julgamentos de maior destaque da história do país.
“Estou sendo vigiado o tempo todo”, afirma Bolsonaro ao Times. “Acho que o sistema não quer me prender; quer me excluir.”
Bolsonaro vê o desenvolvimento nos Estados Unidos como um sopro de esperança. Ele destacou Trump, Elon Musk e Mark Zuckerberg como líderes de uma “campanha global pela liberdade de expressão” e espera que isso impacte o cenário político no Brasil. “As redes sociais decidem eleições”, disse.
Bolsonaro acusa Moraes de censurar vozes conservadoras e persegui-lo politicamente. Moraes tentou o bloqueio de pelo menos 340 contas nas redes sociais desde 2020.
Essa tensão incluiu um debate com Musk, resultando em um breve bloqueio da plataforma X no Brasil. Embora Musk tenha recuado, o episódio atraiu atenção global às reclamações de Bolsonaro.
Na semana passada, Bolsonaro comemorou quando Zuckerberg anunciou que sua empresa trabalharia com Trump para “resistir” a governos que buscam censura, citando “tribunais secretos” na América Latina.
“Estou gostando do Zuckerberg”, disse. “Bem-vindo ao mundo das pessoas de bem, da liberdade.”
Bolsonaro foi evasivo ao explicar como Trump e gente do governo americano poderiam ajudá-lo com seus desafios legais e políticos. “Não vou dar dicas ao Trump, nunca”, disse. “Mas espero que a política dele influencie o Brasil.”
Elizabeth Bagley, embaixadora dos EUA no Brasil, afirmou ao New York Times que as esperanças de Bolsonaro de uma interferência americana são irrealistas, pois o governo dos EUA não interfere em processos judiciais de outros países.
A Polícia Federal o acusou de crimes em três investigações. Em uma delas, Bolsonaro teria se beneficiado de dinheiro obtido com a venda de joias recebidas como presentes de estado, incluindo um Rolex de diamantes. Ele culpou regras pouco claras sobre a posse de tais itens.
Outra investigação envolve a falsificação do seu comprovante de vacinação contra a Covid-19 para viajar para os EUA. Bolsonaro nega ter conhecimento da falsificação, mas afirma não ter se vacinado.
Na acusação mais grave, a polícia alega que Bolsonaro “planejou, agiu e teve controle direto e eficaz” sobre uma conspiração para realizar um golpe. Relatórios da PF indicam que ele chegou a editar um decreto de estado de emergência para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas abandonou o plano após dois líderes militares rejeitarem participarem.
Bolsonaro negou as acusações de golpe e decidiu ter discutido o decreto. “Não vou negar”, disse ele. “Mas, na segunda conversa, desistimos.” Ele justificou a ideia alegando acreditar em fraude eleitoral.
A polícia também afirmou que o plano incluía assassinatos de Lula, seu vice e Moraes. Cinco homens ligados a uma unidade militar de elite foram presos por conspirar nesse sentido, mas desistiram após Bolsonaro recuar no decreto.
Bolsonaro negou envolvimento no plano e minimizou as acusações. “Acho que foi apenas bravata. Nada. Esse plano é inviável, impossível.”
Apesar de se declarar inocente, Bolsonaro admite preocupação com um julgamento liderado por Moraes. “Minha preocupação não é julgada, mas por quem foi julgada.”
Enquanto isso, Bolsonaro busca caminhos para retornar ao poder. Após ter sido declarado inelegível até 2030 por ataques ao sistema eleitoral, ele chamou a decisão de “estupro da democracia” e disse estar trabalhando para concorrer à presidência em 2026.
Ele ainda falou ao New York Times que, antes de mais nada, só deseja ir a Washington neste fim de semana. “Peço a Deus a chance de apertar a mão do Trump”, afirmou. “Nem preciso de uma foto, apenas apertar a mão dele.”