A política brasileira sofreu um verdadeiro terremoto político nesta sexta-feira (5) com o anúncio de que o ex-presidente Jair Bolsonaro, detido na sede da Polícia Federal em Brasília, escolheu seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), para disputar a presidência da República em 2026. A decisão, que coloca o sobrenome Bolsonaro em primeiro plano na disputa interna da direita nacional e contraria os planos do grande capital, que apostava no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi oficializada por Flávio em suas redes sociais e teve consequências imediatas.
A decisão de lançar Flávio como candidato à Presidência foi consolidada após uma visita que o senador fez ao pai na prisão da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, na última terça-feira (2). A conversa, que durou cerca de meia hora, selou o caminho. Antes de tornar a decisão pública, Flávio teria viajado a São Paulo na quinta-feira (4) para informar Tarcísio de Freitas e aliados sobre o movimento.
O anúncio público foi feito pelo senador em um texto nas redes sociais, onde ele afirmou ter recebido uma “missão” diretamente do pai, a quem chamou de “a maior liderança política e moral do Brasil”. Flávio declarou:
“É com grande responsabilidade que confirmo a decisão […] de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação.”
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, confirmou rapidamente a decisão com uma nota formal, afirmando: “Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua pré-candidatura. Então, se Bolsonaro falou, está falado”.
A escolha de Flávio, contudo, encontrou resistência imediata entre parlamentares do chamado “centrão”. Parte de seus caciques, que vinham articulando em favor de Tarcísio de Freitas, avaliou que o governador teria “mais viabilidade eleitoral” e uma maior capacidade para unir siglas da direita e da extrema direita. Na leitura de dirigentes do Centrão, a candidatura de Flávio, teria uma alta rejeição e, por isso, não possuiria o mesmo poder de união, o que resultaria na fragmentação da oposição ao presidente Lula (PT), dividida entre diversos nomes, principalmente de outros governadores.
Na verdade, a grande diferença entre Tarcísio e Flávio Bolsonaro é que o primeiro conta com o apoio do grande capital, cuja pressão facilita a unidade entre os diversos setores da política burguesa.
Antônio Rueda, presidente da federação que reúne o União Brasil e o Progressistas, criticou o movimento, apontando, corretamente, o risco de aumento da polarização que a escolha de Flávio representa — justamente o fator que assusta a burguesia, que deseja um nome mais controlável. Nos bastidores, a avaliação de alguns políticos é que o lançamento de Flávio possa ser um “blefe” da família para tentar, com o risco de fragmentação, recuperar o espólio eleitoral que estava migrando para Tarcísio.
A nomeação de Flávio acontece em um momento de extrema pressão judicial sobre o ex-presidente, cuja prisão, no último dia 22, aumentou a urgência em definir um sucessor. O próprio Flávio se tornou uma figura central na defesa política do pai.
Nos últimos meses, as apostas em Flávio cresceram à medida que ele assumiu a linha de frente do ex-presidente, adotando um tom público mais enfático e duro contra o Supremo Tribunal Federal (STF), uma mudança em relação ao seu perfil inicialmente mais moderado. Ele chegou a ser mencionado pelo ministro Alexandre de Moraes na ordem de prisão do pai, devido a uma vigília convocada.