Em uma entrevista ao vivo conduzida pelo jornalista Léo Dias na última sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quebrou o silêncio pela primeira vez desde que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), há seis dias, por cinco crimes: organização criminosa, abolição violenta do Estado de Direito, golpe de Estado, dano contra o patrimônio da União e deterioração do patrimônio tombado. Transmitida diretamente de Brasília, a conversa, que durou mais de duas horas e alcançou um pico de 700 mil espectadores simultâneos, abordou desde as acusações relacionadas ao 8 de janeiro de 2023 até momentos pessoais do ex-presidente, como sua relação com a família e reflexões sobre o governo.
“Não dei golpe nenhum, estava nos EUA”
Bolsonaro abriu a entrevista rebatendo com veemência as denúncias da PGR, que o apontam como líder indireto dos atos que culminaram na invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes. Ele destacou sua ausência do Brasil no momento dos eventos, questionando a lógica das acusações e a falta de provas que o conectem diretamente aos atos. Também sugeriu que os acontecimentos foram manipulados politicamente para incriminá-lo, apontando para uma suposta armação da esquerda. “Eu não estava no Brasil, como é que eu destruí alguma coisa? Não tem cabimento. Falei para o pessoal ir pra casa ainda em novembro. Noventa por cento já tinha ido embora, até que houve um chamamento que a Polícia Federal não identificou. Isso foi armado pela esquerda, só pode ser, porque eu estava nos Estados Unidos há 10 dias e não dei comando nenhum.”
“Vazio do Poder”
A relação com Donald Trump, recém-empossado nos EUA, foi um dos temas abordados. Bolsonaro elogiou o país e criticou a postura de Lula em relação ao líder estrangeiro, enquanto rejeitou rótulos como “extrema direita”, defendendo que seu governo não foi radical. Ele também comemorou o avanço da direita no mundo, citando exemplos como Alemanha e o Parlamento Europeu. Em um momento mais introspectivo, admitiu ter enfrentado dificuldades emocionais no cargo. “Eu sabia o meu lugar ao conversar com Trump. O Lula reclama dele como se fosse igual, mas o PIB deles é 14 vezes maior que o nosso. Não sou radical, não tivemos isso no meu governo. Você sente o vazio do poder. Sai do avião e pensa: cadê meu paraquedas? Chorei várias vezes sozinho na Presidência, é a impotência de querer resolver e não conseguir.”
“Tortura Psicológica”
Sobre a delação premiada de Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, Bolsonaro evitou críticas diretas, mas condenou o processo como coercitivo e questionou sua validade jurídica. Ele alegou que Cid foi pressionado a falar sob ameaça psicológica, e que os áudios divulgados não apresentam provas concretas contra ele. A última interação com Cid, segundo Bolsonaro, ocorreu antes de sua saída do Brasil. “Ele foi obrigado a falar certas coisas. Você vê nos vídeos: ‘Você tem pai, esposa, filha’. Isso é tortura psicológica. Não vou atacar o Cid, me coloco no lugar dele. A forma como fizeram o inquérito foi errada, soltaram pedacinhos de áudio sem prova, e eu não falo com ele desde 30 de dezembro de 2022, quando disse ‘boa sorte’ antes de ir pros Estados Unidos.”
Relação com a Família e o Futuro Político
Bolsonaro revelou aspectos de sua vida pessoal, admitindo ser emocionalmente reservado com os filhos e destacando o impacto de sua formação militar. Ele elogiou Michelle Bolsonaro, negando planos políticos para ela, e expressou preocupação com os ataques sofridos por sua filha Laura, de 14 anos. Sobre o futuro, manteve-se confiante em sua elegibilidade, desafiando as acusações e convocando um ato em Copacabana para 16 de março em defesa da liberdade de expressão e da anistia aos presos do 8 de janeiro.