O youtuber Felca. Foto: Reprodução

As fake news bolsonaristas sobre a Ilha de Marajó, no Pará, voltaram a ganhar repercussão nacional após a denúncia do youtuber Felca sobre “adultização” de crianças nas redes. As narrativas sensacionalistas sobre o lugar têm sido usadas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para promover desinformação nas redes.

A região já enfrentava problemas graves de exploração sexual infantil e vulnerabilidade social desde os anos 2000, com CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) e investigações anteriores, mas as informações distorcidas começaram a circular intensamente nas redes sociais no início do governo Bolsonaro, por obra de sua ex-ministra e hoje senadora, Damares Alves.

O arquipélago apresenta quatro dos dez municípios com menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, situação agravada pelo isolamento geográfico, dificuldades socioeconômicas e falta de estrutura para atendimento às vítimas. Esses fatores tornam o território vulnerável, mas não justificam a criação das narrativas da extrema-direita que viralizaram nos últimos anos.

Em 2020, Damares afirmou, sem provas, que crianças teriam dentes arrancados e seriam alimentadas com comida pastosa para facilitar práticas sexuais, além de serem traficadas para exploração sexual ou de órgãos.

O Ministério Público Federal (MPF) classificou as declarações como fake news e exigiu retratação com indenização de R$ 5 milhões. A cantora gospel Aymeê Rocha também contribuiu para a amplificação da narrativa com a música “Evangelho de Fariseus”, que associa casos de pedofilia e tráfico de órgãos à Ilha de Marajó.

A senadora bolsonarista e ex-ministra Damares Alves. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Representantes locais reconhecem que o Marajó enfrenta problemas sociais e exploração infantil, mas condenam o sensacionalismo bolsonarista que distorce a realidade. Jonias Correa Guedes, presidente do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) de Melgaço (PA), afirma que o arquipélago não é conivente com os crimes e alerta que situações semelhantes ocorrem em outras regiões.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 74.930 casos de estupro de vulnerável em 2022, média de 36,9 por 100 mil habitantes. No Marajó, ocorreram 407 casos, equivalente a 73 por 100 mil habitantes, acima da média nacional, mas abaixo de estados como Roraima, Acre e Amapá.

Entre fevereiro e março de 2024, um levantamento da Agência Pública apontou que políticos bolsonaristas impulsionaram publicações falsas sobre o Marajó, pagando cerca de R$ 100 reais por post, alcançando até 80 mil visualizações. O deputado estadual Coronel Neil (PL) obteve aproximadamente 10 mil impressões em dois dias na época.

Essas ações serviram como ferramenta política para atacar Felca, youtuber que denunciou os crimes do influenciador Hytalo Santos e defende a regulamentação das redes sociais. Felca argumenta que crimes digitais devem ter a mesma responsabilização que no mundo físico, confrontando a agenda de parte da direita, que rejeita qualquer tipo de regulação do setor.

Parlamentares e influenciadores bolsonaristas passaram a explorar a decisão de deputados do PT e PSOL de não assinar a CPI de Marajó, alegando que a proposta estava contaminada por sensacionalismo e desinformação. A extrema-direita usa essa recusa como argumento para desacreditar Felca, alegando “hipocrisia” da esquerda em priorizar crimes online, mas ignorar supostos casos de pedofilia no Marajó.

Veja como os casos têm sido tratados por bolsonaristas nas redes:

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Last Update: 13/08/2025