
Nos bastidores do Congresso, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) articulam uma estratégia para potencializar o desgaste do ministro Alexandre de Moraes, relator do julgamento aos golpistas no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de terem o recurso contra a prisão domiciliar de Bolsonaro pronto, parlamentares e assessores próximos ao ex-presidente defendem que os advogados aguardem alguns dias antes de protocolar o pedido, em uma tentativa de prolongar o que consideram um “momento de fragilidade” do magistrado, na esperança de um “derretimento” na imagem dele.
Segundo Igor Gadelha, do Metrópoles, fontes bolsonaristas alegam que o protocolo imediato do recurso poderia “roubar os holofotes” das críticas que Moraes vem enfrentando desde que decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro na segunda-feira (4).
Nos últimos dias, o ministro foi alvo de editoriais críticos em veículos como a Folha de S. Paulo e teve sua decisão questionada por juristas, especialmente pelo fato de ter agido de ofício, sem provocação do Ministério Público.
“Se entrarmos com o recurso agora, o debate pode mudar de foco. Queremos que a pressão sobre Moraes siga crescendo”, explicou um deputado do PL que acompanha de perto a estratégia.

Sinais de flexibilização
As críticas parecem já ter surtido algum efeito. Nesta quarta-feira (6), Moraes autorizou que filhos, netos e cunhadas de Bolsonaro visitem o ex-presidente sem necessidade de autorização prévia, uma mudança em relação às restrições iniciais. A decisão foi interpretada por aliados como um recuo tático do ministro diante da repercussão negativa.
O advogado Celso Villardi, integrante da defesa de Bolsonaro, confirmou à reportagem que o recurso está pronto, mas evitou cravar uma data exata para o protocolo. “Espero que hoje”, disse, sem descartar a possibilidade de adiamento.
Além das reações públicas, Moraes também enfrenta suposta resistência de colegas no próprio Supremo. Segundo Mônica Bérgamo, da Folha, ministros têm criticado em conversas reservadas a forma como o relator conduziu o caso, especialmente a decisão de decretar a prisão sem solicitação do MP.
Nenhum deles, no entanto, se manifestou publicamente neste sentido, apenas Gilmar Mendes, mais cedo, que garantiu apoio da Corte ao relator e que o “Brasil teria virado um pântano institucional sem ação de Moraes”.
Para aliados de Bolsonaro, o silêncio dos demais ministros é temporário. “Aos poucos, a pressão está fazendo com que até dentro do STF as pessoas comecem a questionar os excessos de Moraes”, afirmou um senador da base bolsonarista.