Por Mariana Sebastião
Receber Bolsa Família reduz o risco de morrer? Sim, pelo menos em causas específicas. Um estudo recentemente publicado na PLOS Medicine testou, em pacientes hospitalizados com qualquer transtorno psiquiátrico, a associação entre ter acesso ao Programa Bolsa Família (PBF) e o risco de mortalidade. O resultado? O Programa não só reduziu as taxas de mortalidade entre pessoas internadas com transtornos mentais, como poderia evitar mais mortes.
A investigação foi conduzida pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia). Para entender o impacto do benefício na mortalidade desse público específico, a pesquisa vinculou dados sociais e de saúde da Coorte de 100 Milhões de Brasileiros* e acompanhou, a partir dessa grande base, cerca de 70 mil pessoas que se inscreveram no Programa após uma única hospitalização por um transtorno psiquiátrico.
“Comparamos um grupo de pessoas que recebeu o benefício após uma hospitalização por transtorno mental com um grupo que não recebeu. Essa comparação mostrou que o Bolsa Família promoveu uma redução de 7% na mortalidade geral e de 11% na mortalidade por causas naturais”, explica Camila Bonfim, pesquisadora do Cidacs/Fiocruz Bahia que liderou a investigação.
Redução foi maior para mulheres e pessoas mais jovens
As pessoas hospitalizadas com transtornos mentais que integraram a base tinham idade entre 10 e pouco mais de 100 anos e os dados analisados cobrem o período entre os anos 2008 e 2015. Os números apontam que, no caso das mulheres, o PBF teve impacto de 25% de redução da mortalidade por causas gerais e de 27% por causas naturais. O efeito também foi relevante para pessoas entre 10 e 24 anos, com uma redução de 21% na mortalidade por causas gerais e de 44% por causas naturais.
“Esses impactos na redução da mortalidade por causas naturais como doenças cardiovasculares, cânceres, doenças respiratórias e outras coisas, mostram como o Programa promoveu um melhor acesso a serviços de atenção primária e exames de rotina, já que uma das condições para receber o benefício é esse acompanhamento”, explica Camila.
Além de reduzir a mortalidade, o Programa mostrou potencial para evitar mortes. Ao analisar a base das pessoas hospitalizadas por transtornos psiquiátricos, a pesquisa verificou que se todas recebessem o benefício, pelo menos 4% das mortes teriam sido evitadas.
Alívio da pobreza e medidas de prevenção – De acordo com Camila, apesar de não ter sido projetado para lidar com o risco elevado de mortalidade nessa população específica, os números destacam a importância do benefício nesse aspecto: “Pessoas internadas com transtornos psiquiátricos têm uma expectativa de vida mais baixa do que a população geral. Conseguimos visualizar o potencial de programas de redução da pobreza, como o Bolsa Família, em um dos grupos populacionais de maior risco na sociedade”, afirma.
O estudo enfatiza a importância de medidas práticas para prevenção: “São muitos os desafios de viver com transtornos psiquiátricos graves. Os números nesse estudo não só ajudam a aumentar o conhecimento sobre os efeitos do Bolsa Família no Brasil, mas ressaltam a urgência de considerar estratégias intersetoriais que ajudem a prevenir a mortalidade dos pacientes após uma hospitalização psiquiátrica”, conclui.