A ferramenta de IA chinesa DeepSeek envia dados pessoais para a China, assim como o ChatGPT envia para os servidores dos Estados Unidos. Ambas as inteligências artificiais podem compartilhar todos e quaisquer dados para empresas, fornecedores e autoridades governamentais de cada um dos países interessados. Mas apenas a chinesa teve essa atuação contestada no mundo empresarial, imprensa e redes sociais nos últimos dias.
“DeepSeek envia dados para a China?”, “Não leu os termos de uso? Saiba o que o DeepSeek faz com seus dados”, “Em poucos dias, centenas de empresas restringiram o uso da IA da DeepSeek”, manchetaram sites e jornais.
A repercussão do assunto, de que a IA da China compartilha com o governo chinês os dados colocados pelos usuários e empresas, atingiu fortemente o meio empresarial.
Nesta semana, agências reguladoras de proteção de dados de diversos países – como Itália, França, Irlanda e Coreia do Sul, abriram investigações e protocolaram pedidos de respostas oficialmente, cobrando explicações da DeepSeek sobre o uso dos dados pessoais e a proteção dos mesmos.
Empresas de todo o mundo iniciaram, então, sistemas de boicote ao recente modelo lançado da plataforma.
Não por coincidência, o alarde sobre a concorrente da norte-americana ChatGPT ocorreu imediatamente após o boom econômico da DeepSeek assustar os investidores dos Estados Unidos.
O lançamento do modelo R1 da DeepSeek causou impacto no mercado financeiro norte-americano, resultando em uma perda de US$ 1 trilhão no valor de mercado de big techs como ChatGPT, Gemini e da Microsoft, pelo custo muito menor da plataforma para obter praticamente o mesmo resultado.
Reportagem de O Globo, nesta sexta-feira (31), por exemplo, divulgou de maneira generalizada que “centenas” de empresas decidiram restringir o uso da inteligência artificial (IA) desenvolvida pela DeepSeek. Sem especificar quais empresas. As preocupações seriam de “riscos significativos de vazamentos de dados empresariais sensíveis”.
O alarde, contudo, não foi feito quando a Inteligência Aritificial da OpenAI foi lançada, ou ainda a Gemini da Alphabet e a Copilot da Microsoft, as três norte-americanas.
Mas as mesmas preocupações poderiam ser lançadas pelos gigantes da tecnologia ou mercado financeiro ao ChatGPT. Isso porque a ferramenta de Inteligência Artificial mais popular e conhecida faz, praticamente, a mesma coisa com os seus dados do que a chinesa.
O que o ChatGPT pode fazer com os seus dados pessoais
O GGN revisou a Política de Privacidade do ChatGPT [acesse a íntegra aqui] e constatou que a Inteligência Artificial mais usada no mundo atualmente autoriza, em seus termos, a divulgação de dados pessoais a: “fornecedores e prestadores de serviços”, a “afiliados” do grupo econômico da OpenAi, a “administradores de contas corporativas” e também a “autoridades governamentais” e, explicitadamente, com a finalidade de “transferências comerciais”.
No tópico “transferências comerciais” da Política de Privacidade do ChatGPT, a empresa afirma que “se estivermos envolvidos em transações estratégicas” comerciais, “seus Dados Pessoais poderão ser divulgados“.
No item “autoridades governamentais ou outros terceiros”, a OpenAI diz que “nós podemos compartilhar seus Dados Pessoais, incluindo informações sobre sua interação com nossos Serviços, com autoridades governamentais, pares do setor ou outros terceiros“.
O item não especifica quais “outros terceiros” seriam estes além das autoridades governamentais, abrindo brechas para o compartilhamento de dados com qualquer pessoa, empresa ou órgão que a plataforma julgar necessário.
E, mais: ao elencar em quais situações o ChatGPT pode compartilhar seus dados com autoridades governamentais dos Estados Unidos, os termos apontam como razões eles “acreditarem, de boa-fé, que tal ato é necessário para cumprir uma obrigação legal”.
Ou seja, o critério subjetivo de simples “boa-fé” da OpenAI seria suficiente para essa exposição de dados pessoais.
Ao explicar onde os dados pessoais de milhões de pessoas e de empresas de todo o mundo são armazenados, a OpenAI do ChatGPT afirma que estão em “servidores localizados em vários territórios” e “em nossas instalações e servidores nos Estados Unidos“.
Em determinado parágrafo, os termos de privacidade do ChatGPT deixam claro que a legislação de outros países não é considerada, exceto se a plataforma for incitada judicialmente:
“Embora a legislação de proteção de dados varie de país para país, aplicamos as proteções descritas nesta política aos seus Dados Pessoais, independentemente do local onde eles são tratados, e apenas transferimos esses dados de acordo com mecanismos de transferência legalmente válidos.”